Parceria entre o PRS Caatinga e o Caatinga promove cultivo de algodão agroecológico e de baixo carbono em Araripina

Anne Clinio, Patrícia Lyra | 15 de fevereiro de 2023

Diálogo com práticas tradicionais busca promover a qualificação da Convivência com o Semiárido como agricultura regenerativa

As Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono (TecABC), difundidas pelo Projeto Rural Sustentável Caatinga por meio de assistência técnica qualificada, está fortalecendo o planejamento e execução do cultivo de algodão agroecológico realizado por 120 famílias de agricultores. Elas são apoiadas pelo Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não Governamentais Alternativas (Caatinga) nos municípios de Exu, Moreilândia, Santa Cruz e Santa Filomena, no Sertão do Araripe, Pernambuco.

O Caatinga, organização parceria do PRS Caatinga, já contava com largo histórico de iniciativas de base agroecológica e sustentável, com foco na multifuncionalidade e diversidade das atividades produtivas. Agora, suas ações passam a dialogar também com a agenda climática global e a promoção de uma agricultura regenerativa de baixo carbono.

A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que integra diversas espécies (floresta, alimentares e forrageiras) e animais em uma mesma área é a principal tecnologia de baixo carbono que está sendo implementada nos 120 hectares disponibilizados pelas famílias. A Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) e o Manejo de Dejetos de Animais (MDA) complementam a estratégia criada pelo Caatinga para manter e conservar paisagens e serviços ecossistêmicos.

Agricultor recebe orientação sobre uso de maquinário

Um dos objetivos do Caatinga é melhorar a produção e comercialização do algodão agroecológico e outros produtos oriundos da agricultura familiar para a obtenção de certificado pelo Organismo Participativo de Avaliação e Conformidade (OPAC) para orgânicos, reconhecida pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). A maioria dos participantes do Projeto também faz parte da Rede de Agricultores/as Experimentadores/as do Araripe (Rede Araripe) e à Associação de Agricultores e Agricultoras Agroecológicos do Araripe – Ecoararipe. Das 120 famílias que participam das ações do projeto, quatro foram selecionadas para serem Unidades Demonstrativas (UD) e atuarem como espaço de difusão as tecnologias de baixo carbono entre outras 116 famílias agricultoras que funcionam como Unidades Multiplicadoras (UM) e estão replicando o aprendizado nas suas propriedades.

Esta oportunidade é considerada valiosa pelos participantes já que, historicamente, as 120 famílias tinham pouco acesso à assistência técnica. Agora, elas contam com apoio da equipe especializada do Caatinga, formada no Programa de Capacitação promovido pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS) em parceria com a Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF).

Resgate de tradições dialoga com futuro mais sustentável

Coordenador técnico Ariagildo Vieira

De acordo com o coordenador técnico do projeto no Caatinga, Ariagildo Viera, as ações proporcionam um resgate da cultura local. “Além de permitir às famílias um resgate do cultivo de uma cultura tradicional do Nordeste do Brasil, o fato de estamos cultivando culturas alimentares, plantas adubadeiras, oleaginosas e forrageiras na mesma área do algodão, agrega valor ao Arranjo Produtivo Local, protegendo e recuperando o solo e, ainda, resgatando carbono”, afirma Ariagildo.

O fortalecimento do APL vem acontecendo através da construção de conhecimentos junto as famílias, principalmente através de ensinamentos que promovam a proteção de solos e melhoria nos arranjos do cultivo consorciado. Além disso, investiu-se na aquisição de equipamentos e adoção das TecABC para que as famílias melhorem a sua produção, potencializando a fixação de ´carbono no solo e a redução da emissão de gases de efeito estufa.

Alexandre Holanda, assistente técnico da equipe do Caatinga, reconhece que o PRS Caatinga está contribuindo para o fortalecimento do APL de algodão agroecológico.

“Existe uma boa aceitação por parte das famílias agricultoras que aderiram ao Projeto. Elas nos têm dado a oportunidade de testar esse arranjo produtivo na parte de cima da Serra, que tem um solo diferenciado. Estamos testando principalmente na Unidade Demonstrativa e os resultados estão sendo ótimos. Estamos gerando renda monetária, com a venda justa do excedente da produção, e gerando renda não monetária já que os produtos alimentam as famílias, garantindo sua segurança alimentar. Esse é um dos grandes avanços do Projeto no território do Araripe. Acreditamos que vamos ter esse ano, uma boa safra e uma boa colheita. Vale destacar a troca de experiência das famílias agricultoras, através de intercâmbios, Dias de Campo e capacitações – tanto para as famílias como para a equipe que aprendemos antes de ensinar”, conclui.

Assistente técnico Alexandre Holanda em campo

Mudança de comportamento dos agricultores reduz emissões e aumenta renda

O agricultor Jailson Sales, que faz parte da Associação de Agricultores da Serra da Estância e vive na Serra do Matosinho, tem em sua propriedade uma das Unidades Demonstrativas e diz estar muito satisfeito.

“O Projeto me trouxe uma série de benefícios não só para mim, como também para minha comunidade. Antes do projeto ser implantado na minha propriedade, por conta da falta de conhecimento, eu colocava fogo em todo mato seco, em folhagem e matéria orgânica, prejudicando o solo. Agora não, tem mais de ano que não uso esterco de gado ou ovelha, junto as folhagens e faço a adubação, que também serve de repelente natural, melhorando o solo, enriquecendo a nossa propriedade e gerando uma renda extra”, nos fala satisfeito o produtor.

Agricultor Jailson Sales

Articulação regional busca incidir em políticas públicas

O Caatinga e outras duas organizações pernambucanas apoiadas pelo PRS Caatinga, – a Fundação Araripe e a Associação dos/as Agricultores/as Familiares da Serra dos Paus Dóias – Agrodóia – desenvolvem ações conjuntas no território do Araripe e outros espaços para amplificar o debate regional e a proposição de práticas agrícolas sustentáveis. São organizações com larga tradição na agroecológica, que buscam qualificar as estratégias de convivência com o semiárido para promover uma agricultura regenerativa de baixo carbono.

Elas atuam conjuntamente na disseminação de boas práticas de agricultura regenerativa e de baixo carbono; na promoção do desenvolvimento sustentável a partir das premissas da agroecologia; na incidência política nos espaços discussão e construção de políticas públicas para agricultura familiar; e na realização de estudos de casos e sistematização do trabalho realizado no território do Araripe.