PRS Caatinga, em parceria com a Comapi, leva ILPF para apicultores piauienses, agregando valor a produto de exportação

Patrícia Lyra | 5 de janeiro de 2023

Produto certificado e orgânico atende a exigências internacionais e está entre os mais puros do Brasil

Produção é armazenada em tonéis para exportação (acervo Comapi).

A produção apícola de Simplício Mendes e região começou há mais de 30 anos e foi favorecida pelo fato de ter um fluxo de néctar apropriado para a produção de grandes quantidades de mel silvestre livres de agrotóxicos, reconhecido internacionalmente por sua qualidade. Essa atividade é considerada a mais rentável do centro-sul do Piauí e vem sendo impulsionada, desde 2007, pela Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes (Comapi), que conta com 468 cooperados diretos e beneficia aproximadamente mil famílias, em nove municípios.

Os produtores de 12 comunidades, que participam do PRS Caatinga, já entregaram esse ano mais de 95 toneladas de mel à Comapi, que beneficia, envasa e comercializa o produto. O grupo é formado por 120 agricultores e agricultoras que recebem orientação, através de assistência técnica permanente, para a inclusão das TecABC no seu trabalho diário como apicultores. Essa quantidade de mel pode ser atribuída a adoção das TecABC que incrementam a produção, segundo a gerente administrativa Janete Dias. “O PRS vem possibilitando uma mudança de comportamento dos agricultores, pois ao utilizar as tecnologias de baixo carbono, aumentam a produtividade agrícola, preservam a vegetação nativa e, ainda, melhoram a renda”.

Janete Dias apresenta “Mel Mesmo” na Feira Nordestina da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Natal-RN).

Os produtos da Comapi são resultado do trabalho de aproximadamente 900 apicultores da agricultura familiar que estão conquistando os mercados mais exigentes do mundo. Seus produtos possuem certificações do Ministério da Agricultura (SIF), da agência norte americana Food and Drug Administration (FDA), do IBD (produto orgânico), Fairtrade (comércio justo), Non GMO (produto geneticamente não modificado), True Source (que rastreia se a origem do produto está em conformidade com as leis internacionais de comércio) e, ainda, o Selo Nacional da Agricultura Familiar- SENAF.

Em 2022, cerca de 97% da produção foi exportada para os Estados Unidos, mas a Comapi já exportou para Itália, Alemanha e Inglaterra. No Brasil, a cooperativa comercializa nos estados do Piauí, Ceará, Pernambuco, São Paulo, Espírito Santo e Brasília. Localmente, organizou o 1º Festival do Mel de Simplício Mendes, iniciativa criada para ampliar o conhecimento e a comercialização de produtos da apicultura.

PRS Caatinga e a implantação das TecABC agregam valor ao produtos

Para o coordenador técnico Sérgio Viana, o PRS Caatinga veio somar a estratégia da cooperativa em apresentar um diferencial para o seu produto, em um mercado competitivo.

Coordenador Sérgio Viana

“Trabalhamos com nichos de mercado, em especial com a linha orgânica. A parceria caiu como uma luva. Primeiro, porque trabalha com tecnologias de baixa emissão de carbono e agricultura regenerativa – fato que pode ser utilizado pelo marketing. Segundo, porque nossos produtores trabalham com apicultura, prática que é alicerçada no tripé da sustentabilidade social, econômica e financeira, fator que já vem sendo reconhecido mundialmente. Nós precisamos agregar valor, dando mais visibilidade ao que produzimos, por meio dessas tecnologias, com o forte respaldo do PRS Caatinga, que tem uma visibilidade nacional, amplia a visibilidade da nossa marca”, destaca Viana.

Os associados da Comapi atendem uma série de condições para que o produto esteja em conformidade com várias exigências. “A Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica (IFOAM), estabelece que os apiários devem ficar a um raio de 6 km de distância de qualquer outro local, seja ele residência, estrada ou qualquer construção que possa prejudicar a produção, atendemos esse requisito, pois estamos a 6,4 km de distância e ainda temos o diferencial de produzir mel dentro de uma mata nativa, em um bioma exclusivo no mundo”, destacou Janete Dias.

Assistência técnica qualificada e permanente orienta a implementação de ILPF

Para alcançar esses resultados, os assistentes técnicos da Comapi foram qualificados pelo Programa de Capacitação em Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono, promovido pela Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável (FBDS) e a Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF). Esses profissionais estão apoiando a adoção da tecnologia de baixo carbono em sistemas de Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), visando a melhoria do pasto apícola em 12 Unidades Demonstrativas e 108 Unidades Multiplicadoras, nos municípios de São Francisco de Assis do Piauí (cidade com menor IDH do Estado) e Bela Vista do Piauí.

Unidade Multiplicadora Cantinho

A Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) está ampliando o número de mudas de árvores, como Algaroba, Leucena e Moringa produzidas e plantadas nas propriedades dos apicultores para serem usadas como alimentação dos animais ruminantes e das abelhas. “Essa tecnologia colabora com o barramento natural da ação dos ventos, contribui com a alimentação animal utilizando os resíduos das podas e, ainda, com o pasto apícola”, explica Janete Dias”.

Agricultor Almiro Coelho

Com a introdução da ILPF, a Comapi espera ter menor perda de enxames, aumentando a produção e a oferta de mel, otimizando suas vendas em outros mercados compradores.

O agricultor Almiro Coelho, da comunidade Barreiro Grande, espera contribuir com o meio ambiente e multiplicar o que vem aprendendo.

“Pra mim, o Projeto tem me ajudado bastante. Agora na seca mesmo, se não fosse a palma e as mudas que eu tinha na minha terra para alimentar os animais, eu tinha me aperreado muito mais. Às vezes, a gente queria plantar, mas fazia de todo jeito, sem organização e, agora, os técnicos nos passam os ensinamentos corretos e está sendo uma ajuda muito grande para nossa produção”.