PRS Caatinga e Instituto Terraviva incentivam práticas sustentáveis na Bacia Leiteira de Alagoas

Anne Clinio, Patrícia Lyra | 10 de abril de 2023

60 famílias estão abandonando condutas nocivas ao meio ambiente e incorporando as tecnologias de baixo carbono

Preservar, aprender, ensinar e produzir de forma sustentável no campo e na cidade – essas são algumas das ações desenvolvidas pelo Instituto Terraviva para promover a transição de sistemas tradicionais de produção de alimentos em uma agropecuária de baixo carbono. São 60 famílias que atuam como pequenos produtores de leite e cultivam frutas e plantas nativas no município de Belo Monte, localizado na região da Bacia Leiteira de Alagoas.

Por meio da parceria com o PRS Caatinga, agricultores e agricultoras passaram a contar com assistência técnica qualificada para implementar tecnologias agrícolas de baixo carbono, especialmente a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Além disso, os pequenos produtores estão adotando duas tecnologias sociais: a fossa agroecológica, que evita problemas de saúde atrelados à qualidade das águas, e a mureta de pedras, que faz a contenção das águas e protege o solo.

Construcão de fossa agroecológica

Na prática, a organização alagoana investe fortemente em capacitações, mutirões e excursões elaboradas com o propósito de conscientizar os agricultores sobre as mudanças climáticas e a necessidade de modificar comportamentos prejudiciais ao meio ambiente. Seu principal objetivo é substituir práticas nocivas – como o desmatamento ilegal, o uso de fogo para preparar as roças e manejo extensivo de rebanhos – por uma produção de base ecológica, que dispensa o uso de inseticidas ou adubos químicos, e gera benefícios socioambientais e econômicos.

Ricardo Ramalho, coordenador do Terraviva

O coordenador do Terraviva, Ricardo Ramalho, nos fala sobre um dos grandes desafios nesse processo de transformação.

– Um dos maiores desafios são as mudanças comportamentais, sedimentadas há séculos nos modos predatórios de ”explorar” a Caatinga, são de grande magnitude. Mudar a concepção de que o bioma é uma dificuldade, um entrave, mas detentora de um potencial produtivo sustentável.

Essa perspectiva é compartilhada pela assistente técnica Araceli Oliveira que destaca os benefícios para os produtores.

“O Projeto trouxe como uma novidade as formas de plantios, incluindo novas culturas como o maracujá e o eucalipto nos ILPF. As famílias não trabalhavam com essa integração. Nós mostramos aos produtores que, em uma pequena área, eles podem desenvolver várias atividades e obter uma receita maior. Apresentamos também o plantio em nível, os cordões em contornos e as fossas – tecnologias sociais que não eram utilizadas na região”, comenta Araceli.

Metodologia própria promove manejo sustentável da Caatinga

A experiência acumulada pelo Instituto Terraviva, somada à proposta do PRS Caatinga, gerou uma metodologia própria de trabalho que desperta o interesse dos agricultores sobre as mudanças climáticas e fomenta condutas mais adequadas para o desenvolvimento sustentável da região.

– Pensando, ainda, no caráter pedagógico de nosso trabalho, cunhamos esses princípios tecnológicos, metodológicos e gerenciais, em um conceito resumido que se pontifica na frase “Caatinga Raleada, Rebaixada, Enriquecida e Adubada” (CRREA). A partir desses procedimentos de manejo agroecológico, agrupamos uma série de tecnologias que levam ao Manejo Sustentável da Caatinga. Esse é o mister maior e preponderante do PRS, explica Ricardo Ramalho.

Seu Genildo, de Poço de Pedra

A forma cuidadosa de construir coletivamente novos conhecimentos já está resultando em agricultores mais conscientes. Esse é o caso do Seu Genildo, da comunidade Poço de Pedra, que costumava usar o fogo para “limpar a sua propriedade”, mas agora sabe que a terra é muito mais produtiva sem as queimadas.

“Os meninos trouxeram os ensinamentos e agora eu não preciso desmatar. Estamos trabalhando mais correto. Antes eu queimava, mas graças a Deus nunca mais queimei. E agora estou aproveitando bem mais a terra.” comentou.

Já o agricultor Josenilson Barbosa, da comunidade Restinga, destaca a satisfação de aprender. “É com muita alegria que eu tenho esse projeto aqui no meu terreno, porque está trazendo conhecimento para mim e para meus amigos, inclusive no plantio de baixo carbono. Vamos ter o conhecimento, vamos ter uma produção melhor, com menos desmatamento – o que é importante demais pra gente. E pra mim é bom demais esse conhecimento que estão trazendo.”

– Convidamos nosso público a atravessar a fronteira da conscientização das mudanças climáticas e do combate à desertificação, que são esses males silenciosos que afligem nossas terras sertanejas. Essa tarefa requer confiança no que pregamos, firmeza de convicções, enquanto técnicos agroambientais. Além disso, exige cuidados especiais nas abordagens com as famílias rurais para iniciar essa conceituação que, ainda, é pouco conhecida nesse meio, complementa Ramalho.

O resultado das ações conduzidas pelo Terraviva é ratificado, não apenas através de relatos de agricultores e agricultoras, mas também pelo coordenador técnico Van Giap Ramalho. ” A nossa intenção é que a gente possa preservar o bioma Caatinga, produzindo de uma forma sustentável, introduzindo as práticas e as técnicas de agricultura de baixa emissão de carbono no município de Belo Monte (AL), nas comunidades de Restinga e nos assentamentos Jacobina e Poço de Pedra, onde o Projeto Rural Sustentável Caatinga vem sendo desenvolvido.”

Agricultores valorizam novos conhecimentos e tecnologias

O Instituto Terraviva adota diversas práticas e tecnologias que levam em consideração o estágio de desenvolvimento das comunidades e as condições climáticas de cada época do ano.

Agricultora Alcione Oliveira

A agricultora Alcione Oliveira, do assentamento Jacobina, comemora o fato de poder contar com assistência técnica de maneira regular.

“Estamos envolvidos no Projeto, que é muito importante, pois tem trazido muitas oportunidades e melhorias para o assentamento e para o pequeno agricultor. Então a gente está vivendo uma experiência nova, que está sendo muito importante. A assistência técnica também está acontecendo, com acompanhamento com frequência, contribuindo com a gente, nos orientando. Então a importância pra gente é muito grande, tem mudado a vida do agricultor”.

Já o seu José de Oliveira, também do assentamento Jacobina, em Belo Monte (AL), está satisfeito com a oportunidade de participar do Projeto. “Todos e todas estão de parabéns, não só aqui no assentamento, mas em outros assentamentos por aí com essa produção de alimentos saudável e também pelo reflorestamento das terras que estão improdutivas. Daqui pra frente, vamos ter orientação e vai melhorar cada vez mais a nossa produção. Então é uma coisa que “nós” agradece muito, a presença de vocês aqui, por estar ajudando nós com a orientação. A gente vai se capacitar cada vez mais, para ter mais experiência, e essa produção aumentar cada vez mais.”

Agricultor José de Oliveira, que participa do Projeto, em sua propriedade

Diálogo com a administração pública local

A difusão das TecABC como estratégia para o enfrentamento das mudanças climáticas pelo Terraviva também abarca a administração pública local. Para a Secretária Municipal de Agricultura, Raiane Lima, a chegada do PRS Caatinga na região é recompensador.

“É muito gratificante poder participar de mais um projeto e incluí-lo aqui no nosso município, em parceria com o Instituto Terra Viva, trazendo inovação de tecnologias para nosso pequeno agricultor. O PRS Caatinga veio para inovar, para instruir e passar conhecimento para o nosso pequeno produtor e assim desenvolver funções sustentáveis, agregando sempre e aumentando a produtividade do nosso pequeno agricultor”, concluiu a secretária.

Secretária Municipal de Agricultura, Raiane Lima, apóia o PRS Caatinga