Parceria entre PRS Caatinga e Obra Kolping promove a inclusão de mulheres e jovens no Piauí

Patrícia Lyra | 4 de maio de 2023

Quintal Produtivo é estratégia consolidada no semiárido para viabilizar questões de gênero e proporcionar segurança alimentar

A Obra Kolping Piauí, organização apoiada pelo Projeto Rural Sustentável Caatinga, está implementando sistemas de produção de alimentos regenerativos e de baixa emissão de carbono com o diferencial de incluir mulheres e jovens das cidades de Betânia do Piauí e Curral Novo do Piauí.

A organização não governamental faz parte da Obra Kolping Internacional e Obra Kolping do Brasil, que há 45 anos promove a inclusão social, a cidadania e a dignidade de famílias em mais de 70 municípios do semiárido. Na parceria com o PRS Caatinga, a Obra Kolping está proporcionando com Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) qualificada em Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono (TecABC) e segurança alimentar para 90 famílias, destacando-se o fortalecimento dos Quintais Produtivos.

Francisco Guedes

Segundo o coordenador técnico Francisco Guedes, a Obra Kolping é uma das organizações não governamentais que tem grande experiência na região e vem acertando ações inclusivas nas metas do projeto.

“As organizações do Piauí, especialmente as que fazem parte do Fórum Piauiense de Convivência com o Semiárido e da ASA Brasil, são ONGs muito sérias e de grande sucesso. Elas são comprometidas com a luta dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais. A Obra Kolping tem grande know how na produção de alimentos em Quintais Produtivos, usando tecnologias de Convivência com o Semiárido e, agora, no PRS Caatinga, vem agregando as Tecnologias de Agricultura de Baixo Carbono, gerando renda no campo e na cidade, incluindo mulheres e jovens no processo produtivo e contribuindo para reduzir os efeitos das mudanças climáticas no bioma Caatinga.”

De acordo com o profissional de ATER José Luiz Alcoforado, a meta do Projeto de incluir mulheres e jovens nas ações merece destaque, pois os incentiva a trabalhar nos Quintais Produtivos, com reuso de água e o tanque de peixe. “Nós temos aproximadamente 40% de mulheres e 30% de jovens entre as 90 famílias atendidas. “Essa é a maior oportunidade que estamos dando para que essas pessoas tenham dignidade humana, com alimentação adequada. Os investimentos são na capacitação e orientação das pessoas para que compreendam a importância de poder trabalhar, cultivar e produzir de maneira sustentável sem degradação das propriedades, sem fazer uso de queimadas, desmatamentos e agrotóxicos. Eles terão comida saudável em seu quintal”, destacou Zé Luiz, como é conhecido.

Segundo o técnico, a escolha de trabalhar com os Quintais Produtivos se deu porque permite o uso racional dos recursos naturais de forma integrada, sem provocar danos ao meio ambiente já que não usam agrotóxicos.“Essa tecnologia passa de geração a geração e nós mantemos a agrodiversidade, produzindo e garantindo a geração de renda e o fortalecimento da autonomia das famílias em relação ao alimento”.

Detalhe da implementação de um Quintal Produtivo

A proposta que está sendo executada pela Obra Kolping contempla áreas com a implementação da tecnologia de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e Quintais Produtivos com reuso de água, plantio/reflorestamento e enriquecimento de espécies produtivas. Além disso, adotam a Recuperação de Áreas Degradadas (RAD), que conserva o solo através de cobertura morta com vegetação nativa. As 50 Unidades Multiplicadoras (UM) previstas já estão implementadas com o plantio do feijão guandu, leucena, palma forrageira, moringa e ipê. Já as 40 Unidades Demonstrativas (UDs) estão em estado intermediário. Toda a parte de reflorestamento já foi plantada, faltando apenas as manilhas que estão sendo instaladas juntamente com os 10 tanques de peixe.

Agricultores vislumbram um futuro melhor com PRS Caatinga

As 90 famílias atendidas pela parceria do PRS Caatinga e a Obra Kolping vivem do plantio de culturas de subsistência como feijão, milho, hortaliças e plantas medicinais. Elas também criam galinhas, porcos e ovinos em áreas que normalmente estão em processo de degradação.

O técnico Zé Luiz comenta a percepção dos agricultores sobre o Projeto. “A gente vê no semblante das pessoas a alegria de ter o seu Quintal Produtivo. As frutíferas que plantamos já produzem acerola, goiaba e limão. A satisfação dos produtores e produtoras é muito grande. A expectativa é que o PRS seja bom para todos, que vai servir de incentivo a todos, contribuindo para o meio ambiente e o solo”, comentou.

– O Projeto promove ao trabalhador, a trabalhadora e a sua família, resgate da cidadania e da dignidade humana, buscando sempre um mundo melhor, onde todos possam viver bem. Esperamos contribuir da melhor maneira possível para que as pessoas envolvidas tornem o seu meio ambiente mais saudável.

Segundo Zé Luiz, o objetivo maior do Quintal Produtivo é dar sustentabilidade à família em relação à alimentação. “A partir do momento que a mulher e os filhos tomam conta de um Quintal Produtivo de onde podem tirar o sustento da casa o marido não vai precisar fazer uma roça, não vai fazer desmatamento e queimada porque o sustento da casa já está garantido. Isso é um grande avanço para as famílias e a Natureza. Esse foi um dos motivos de termos escolhido envolver os jovens e as mulheres no Projeto”.

TecABC geram resultados positivos para agricultores e agricultoras

Maria dos Humildes é uma das mulheres que participam do PRS Caatinga e fez questão de falar sobre o Projeto. “Para nós mulheres saber que podemos sim trabalhar com a plantação na nossa propriedade é muito importante. Eu sempre plantei, só que não para vender por conta da falta de água. Com esse Projeto, a gente aprendeu como reutilizar a água. Estão, a gente já plantou e quando passar esse período de chuva a gente já sabe como fazer. Eu me sinto uma felizarda por participar e futuramente poder ter as nossas próprias frutas, tanto para o nosso uso, como até futuramente poder vender e fazer uma renda” – falou entusiasmada.

Dona Osvaldina

Para Dona Osvaldina, da comunidade de Emparedadas, que agora conta além da assistência técnica em tecnologias de baixo carbono e a tecnologia social de reuso de água, o conhecimento é uma das coisas positivas que o PRS Caatinga proporciona.

”O Projeto auxilia no sustento de casa, através de conhecimentos transmitidos, como por exemplo, como investir de forma sustentável em plantas que servem para alimentação própria e criação de animais por meio de forragens. O PRS Caatinga nos trouxe novos conhecimento, novas formas de fazer ração para manter os animais na seca.” , disse a agricultora.

Seu José Rodrigues, da comunidade de Chapadas, agora conta com assistência técnica para reflorestar sua propriedade. Ele se diz muito satisfeito com o que tem aprendido com as tecnologias apresentadas pelo PRS Caatinga.

“Tudo o que foi indicado, eu estou fazendo. Estou feliz com esse Projeto, que chegou até aqui através da força de Zé Luiz. Eu fiz tudo do jeito que ele me indicou e tem dado certo. As plantações vão render muito mais silo para os animais. Estou incentivando outros a plantar feijão guandu, moringa, palma e mandacaru, pois compensa muito” As moringas plantadas já passam dos cinco metros. Elas estão sendo moídas e utilizadas como alimento para os animais. As que foram cortadas, já estão brotando, e fazem parte do ciclo do uso sustentável da caatinga.”

Seu Zé Bento

Seu Zé Bento, da comunidade de Mulungu, que adotou a tecnologia Sisteminha, desenvolvida pela Embrapa, diz estar esperançoso com o futuro. Ele considera que a chegada do projeto incentiva a plantação e o cuidado com a terra. “A gente está esperando que daqui para frente vai melhorar, pois as mudas plantadas já pegaram e vão produzir. Eu espero que muita coisa melhore através do PRS. Eu já tinha plantação aqui e a chegada do Projeto já incentiva mais a gente, pois já estou com mais vontade de plantar e de zelar pelo que já está plantado.”

O agricultor acredita que muita coisa vai melhorar. “Eu já tinha manga, banana e outras plantações, mas a leucena, moringa e principalmente a palma é uma ração muito boa para a gente que cria. Tudo coisa boa que o Projeto trouxe”, completa.