Parceria entre o PRS Caatinga e a APPCC conserva recursos ambientais para produzir mel com qualidade de exportação
, | 2 de dezembro de 2022
Princípios de sustentabilidade são aperfeiçoados com a adoção da ILPF e novas infraestruturas fortalecem produção local
A Caatinga, muitas vezes vista por lentes que só conseguem captar a terra seca e o chão rachado, é na realidade um celeiro de possibilidades com uma biodiversidade que agrega grande variedade de fauna, flora, ambientes diversos e, principalmente, pessoas que buscam conviver de maneira sustentável com a semiaridez. Essa busca é rica em práticas e saberes tradicionais que, por vezes, estão alinhados aos princípios de sustentabilidade que orientam as Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono (TecABC), sem que os agricultores e agricultoras familiares as identifiquem como tal.
Nesse contexto, a Associação de Pequenos Produtores da Comunidade de Carnaíbas (APPCC), em parceria com o PRS Caatinga, está investindo no fortalecimento da apicultura, entre 100 agricultores de Bela Vista do Piauí, que já desenvolviam suas atividades com princípios de sustentabilidade e produziram, no último ano, cerca de 5 toneladas de mel, (R$16 o quilo). Parte dessa produção foi exportada para os Estados Unidos, através da Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes, a Comapi e outra comercializada no mercado local.
Agora, a apicultura desenvolvida neste município piauiense ganha novo impulso com a adoção da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) – uma tecnologia de baixo carbono que prevê a junção de diferentes sistemas produtivos (agrícolas, pecuários e florestais) em uma mesma área e melhora a qualidade do seu pasto apícola. Ou seja, aprimora o conjunto de plantas que as abelhas coletam recursos como pólen e néctar.
Além da qualidade do pasto apícola, dois outros fatores são determinantes para a eficiência da produção de mel: a qualidade das abelhas e a qualidade das colmeias utilizadas.
Em outubro, 250 caixas apícolas (colmeias) foram distribuídas de maneira igualitária para as 25 famílias contempladas pelas ações do PRS Caatinga. Na ocasião, os agricultores e agricultoras participaram de um dia de campo e receberam instruções técnicas para aperfeiçoar a produção de mel em suas propriedades. Cinco famílias que ainda não desenvolviam atividades de apicultura e juntaram-se ao grupo mais experiente e começaram a produzir mel com a perspectiva da baixa emissão de carbono.
Casa de mel irá fortalecer produto rentável, de fácil comercialização e de interesse internacional
O investimento do PRS Caatinga para fortalecer esse Arranjo Produtivo Local, reduzir emissões de gases de efeito estufa e aumentar a renda de agricultores em, pelo menos, 15% inclui: a oferta de assistência técnica qualificada em tecnologias de baixo carbono, a implementação de três Unidades Demonstrativas e 22 Unidades Multiplicadoras de ILPF em propriedades de agricultores familiares e a doação de bens de uso coletivo para fortalecer a produção de mel. Em dezembro, será inaugurada uma Casa de Mel destinada ao beneficiamento, industrialização e classificação do produto e seus derivados.
A produtora Maria de Jesus de Sousa, que participa das ações do PRS Caatinga, destaca os benefícios coletivos da nova infraestrutura: “Graças a Deus, a partir com a construção desse espaço a gente vai conseguir diminuir os custos de produção, economizando no gasto para transportar as colméias da nossa comunidade para outro lugar mais distante”, comentou.
Apicultura depende da conservação da biodiversidade e ações sustentáveis
A apicultura é uma atividade produtiva que mantém uma relação tão forte com a conservação da biodiversidade que ela também opera como um indicador do equilíbrio ambiental e de uso sustentável do meio ambiente.
A construção de seis açudes para armazenamento da água das chuvas, financiado pelo PRS Caatinga, garante a hidratação das abelhas e mantém equilibrada a temperatura ambiente das colmeias. Além disso, são utilizados pelos agricultores familiares para matar a sede dos seus rebanhos e na produção de feijão, milho e sorgo forrageiro utilizado para alimentar animais, no período mais seco após sua silagem.
Para o Sr. Bernardo Marques, as novas infraestruturas disponibilizadas pelo PRS Caatinga estão trazendo melhorias para sua atividade apícola e aumento no seu faturamento. “Trabalho com outras atividades agrícolas, mas a apicultura é a mais rentável e com as colméias e a futura Casa do Mel, vamos poder trabalhar com mais qualidade”.
O produtor também fez questão de destacar o incremento em relação à falta de água em sua propriedade, “A construção do açude era um sonho que não tínhamos condições de conseguir, mas que agora está sendo realizado através do Projeto. Hoje já tenho o açude construído e com fé em Deus, teremos bons resultados, pois água é vida”.
Apoio a agricultores familiares impulsiona aspectos econômicos, sociais e ambientais
O coordenador técnico da APPCC, Geovani Coelho, vê com muita positividade a chegada do PRS Caatinga na região e principalmente o fortalecimento da apicultura. “O PRS Caatinga está sendo uma ótima oportunidade para desenvolvermos uma forma mais adequada de agricultura de baixa emissão de carbono, inclusive aperfeiçoando técnicas que já utilizamos e que nem nos dávamos conta que era uma TecABC. Essas ações agregam valor aos nossos produtos e nos ajudam a mostrar tanto o potencial da nossa organização, como a de todos os produtores envolvidos que estão recebendo a assistência técnica oferecida pelo Projeto. Estamos implementando também açudes, cisternas calçadão e adquirimos uma unidade de extração de produtos apícolas, para conseguirmos produzir com qualidade e obtermos melhor comercialização dos produtos.”
Segundo o assistente técnico agrícola, José Carlos Roldão, os resultados após as orientações disponibilizadas já aparecem.“Com o início das atividades de assistência do PRS Caatinga, já sentimos alguns resultados, pois o Projeto busca trabalhar sobre o tripé da sustentabilidade, levando em consideração os aspectos econômicos, sociais e ambientais. A ideia é trazer mais qualidade de vida, não só para as pessoas envolvidas, mas para todos, fazendo com que o sequestro de carbono seja efetivado, visto que o carbono é altamente útil na terra, mas pode ser extremamente prejudicial na atmosfera”, falou Roldão.
Para Maria de Jesus, o Projeto traz oportunidades de crescimento e evolução para a apicultura local. “A maioria das pessoas da comunidade tem conhecimento em relação a atividade, mas não conseguiam trabalhar para si por questões financeiras e o investimento do PRS Caatinga vem fazendo toda a diferença. Essa ação é importante para os que já trabalham com apicultura para sí, mas é ainda mais importante para os que não trabalhavam por conta própria, pois é um pontapé inicial, que traz condições de termos independência. Eu mesma já trabalhava para a família, ajudando na colheita e, agora, com minhas próprias caixas, terei um retorno financeiro maior através do meu serviço, gerando renda para dentro de casa”.