I Fórum de Negócios da Sociobioeconomia da Caatinga: mesa de encerramento tem foco no mercado de caprinovinocultura e sistemas agroecológicos

Patrisia Ciancio | 30 de março de 2023

Agrodóia e cooperativa Ser do Sertão compartilham experiências e indicam entraves para a ampliação de mercados locais

A mesa de encerramento do I Fórum de Negócios da Sociobioeconomia da Caatinga abordou experiências do PRS Caatinga no beneficiamento e na comercialização da caprinovinocultura e sistemas agroecológicos. Participaram do debate, mediado pelo coordenador regional do Projeto, Francisco Campello, o presidente da Associação dos/as Agricultores/as Familiares da Serra dos Paus Dóias (Agrodóia), Wilmar Lermen, e a presidente da cooperativa Ser do Sertão, Valdirene Oliveira.

Durante o evento, foram apresentadas as atuações das organizações convidadas. A Agrodóia reúne 30 famílias associadas que trabalham a agricultura sustentável e consorciada com a prática da meliponicultura em Exu, no Sertão de Pernambuco. Os agricultores e as agricultoras participam desde o plantio de espécies nativas, passando pelo seu beneficiamento na Unidade de Beneficiamento de Frutas Nativas e Cultivada, até a venda para terceiros. Em 2022, por exemplo, a associação vendeu produtos como colorau, sequilhos e frango abatido para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Liderança da organização, Lermen chamou atenção para que os produtos beneficiados também posssam chegar à mesa dos produtores. E falou dos investimentos em pesquisa feitos pela Agrodóia.

Vilmar Lermen, da Agrodóia

Vilmar Lermen, da Agrodóia

– Temos uma pesquisa com sistemas florestais no território do Araripe, e nela, um fato que nos chamou atenção foi que para resolver o problema de estiagem no semiárido nenhum agricultor falou que a irrigação seria a solução. Foram citadas a convivência com as condições ambientais da Caatinga, a Caatinga em pé e o extrativismo sustentável. Além disso, precisamos de um beneficiamento que se volte para o valor agregado dos produtos, que tenha uma questão comercial importante, mas que possa servir às comunidades, que as comunidades possam se alimentar desses produtos beneficiados. E a caprinocultura é importante para ampliar a economia das famílias agricultoras -, disse Lermen.

A liderança da Agrodóia enfatizou ainda, no escopo do trabalho em parceria com o PRS Caatinga, que as tecnologias de ILPF e RAD-F são fundamentais para reduzir o impacto das mudanças climáticas. “Na Agrodóia, temos o desafio de implementar 80 hectares de ILPF e já superamos essa meta. Temos colaborado com pesquisa e com 30 famílias, mas estamos realizando muito mais. Nosso principal mote são os sistemas agroflorestais e o trabalho com jovens que estão se capacitando nas universidades”, afirmou.

O convidado aproveitou a ocasião para convidar os participantes do fórum a conferirem as transformações no campo com seus próprios olhos, referindo-se ao próximo Dia de Campo, no qual os participantes poderão verificar as mudanças em uma propriedade depois de 13 meses de intervenção. Segundo Vilmar, será possível perceber a mudança do contexto paisagístico e integrar experiências com uma família de agricultores que antes não fazia uso das tecnologias de baixo carbono. “Esse é um resultado da nossa parceria. Gratidão!”, finalizou o presidente.

“O fórum nos provoca a pensar diferente”, afirma liderança da Ser do Sertão

A presidente da cooperativa Ser do Sertão, Valdirene Oliveira, abriu sua fala classificando o I Fórum de Negócios da Caatinga como um convite para pensar diferente. E contextualizou o trabalho da cooperativa no processamento de umbu, comercialização de hortaliças, organização da cadeia leiteira e da caprinovinocultura, além das contribuições do PRS Caatinga no desenvolvimento sustentável do APL – Arranjo Produtivo Local.

Valdirene Oliveira, da Ser do Sertão

– A gente aprendeu muito. A mudança climática e a pandemia tiveram um impacto muito grande na vida da gente, produtores e produtoras. Mas também fizeram com que a gente crescesse principalmente na estruturação da agricultura familiar. Segundo pesquisa da Embrapa, 90% dos caprinos e 60% dos ovinos estão no semiárido. Com a pandemia, houve um retorno das pessoas para o campo e um fortalecimento da agricultura familiar. O PRS Caatinga está fazendo acompanhamento dessas famílias. Com isso, estamos vendo que não temos pequenos e médios produtores, temos unidades que estão sendo estruturadas para se sustentarem com aquilo que produzem -, disse a liderança.

E acrescentou: “As propriedades são um negócio, não estão mais voltadas somente para subsistência. O APL da caprinocultura tem um impacto que está crescendo muito rápido e há mercado para isso. É muito importante que projetos como o PRS Caatinga, que está fortalecendo os APLs, façam a diferença no mercado”, disse Valdirene.

Leite de cabra: um produto que o mercado precisa conhecer

– Um dos gargalos que temos está no caso da cabra de leite. O leite de cabra é um produto que tem potencial, com derivados riquíssimos, mas não consegue se expandir. Os produtores de leite de cabra enfrentam dificuldade de colocar esses produtos no mercado. O caprino tem que ter esse reconhecimento. A gente precisa pensar em flexibilizar algumas estruturas. São produtos que o mercado precisa conhecer. Os produtos derivados do leite de cabra são importantíssimos. Existem muitos entraves para que esse produto seja comercializado e divulgado. Com relação ao ovino, já temos um olhar diferente. Já está sendo potencializada essa indústria. É uma cadeia que está crescendo muito -, comentou a presidente da Ser do Sertão.

Caatinga conservada representa suporte forrageiro para rebanhos e redução de emissões de gases de efeito estufa

Francisco Campello, do PRS Caatinga

Segundo Campello, com a agroecologia é possível minimizar a importação de insumos. O próprio ambiente produz insumos e fertilizantes. “A nossa caprinocultura se baseia no suporte forrageiro da Caatinga, então a gente pode desenvolver uma atividade que conserve a paisagem. A gente agrega valor na carne, mas não no sistema. A pastagem diversificada vai reduzir as emissões e conduzir a uma pecuária mais qualificada. A caprinocultura traz essa colaboração em um sistema resiliente que conserva a diversidade”, concluiu.

Saiba mais

O I Fórum de Negócios da Sociobioeconomia da Caatinga aconteceu no dia 14 de março, no Espaço Plural da UNIVASF, em Juazeiro (BA). Assista ao evento na íntegra em:

https://www.youtube.com/watch?v=EnB...