Reunião do Comitê Técnico Territorial debate avanços e novidades do PRS Caatinga para 2022

Patrisia Ciancio | 9 de fevereiro de 2022

“No campo, encontramos experiências propícias para promover a transição para tecnologias de baixo carbono”, diz especialista

Um caminho para a valorização da capacidade da Caatinga de produzir alimentos de maneira sustentável é reconhecer a sua vocação agroecológica. E o PRS Caatinga tem trabalhado fortemente com a agricultura familiar, cujos princípios agroecológicos se somam às tecnologias agrícolas de baixo carbono e promovem uma produção mais sustentável. Outra via é implementar métricas que quantifiquem as contribuições das práticas de convivência com o semiárido, para a questão ambiental, inserindo esse movimento na agenda climática global. Essas ideias foram debatidas durante a reunião do Comitê Técnico Territorial (CTT) do projeto, que reuniu, no dia 3 de fevereiro, pesquisadores, especialistas e representantes de instituições com larga experiência e comprometimento com a Caatinga. O objetivo do encontro foi apresentar atividades e resultados do projeto em 2021 e ouvir contribuições para as ações planejadas para 2022.

– É verdade que precisamos fazer ajustes nos processos produtivos dos agricultores para que eles estejam mais alinhados com uma agricultura de baixo carbono. Olhamos para o futuro de maneira promissora. No campo, encontramos experiências propícias para promover a transição de projetos típicos de convivência com o semiárido em tecnologias de baixo carbono, o que foi uma grande surpresa. Já a introdução de métricas, que são características da agenda climática global, nos permitirá dominar a linguagem dos debates internacionais. Assim, entre a língua da convivência com o semiárido e a língua das TecABC, estamos criando um um terceiro idioma. -, enfatizou Leitão.

A reunião foi conduzida pelo diretor do PRS Caatinga, Pedro Leitão, e teve também a palavra do coordenador regional, Francisco Campello. Os marcos do projeto, ao longo dos últimos dois anos, foram apresentados a partir de dados e análises de cenários que apontam para rumos diferenciados no bioma com as conquistas desse tempo: a capacitação de 600 especialistas em Tecnologias de Agricultura de Baixo Carbono (TecABC) em parceria com a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), o apoio a 20 organizações em 37 municípios do Nordeste e seus Arranjos Produtivos Locais (APLs).

Apoio institucional para seguir em frente

Entre os assuntos comentados na reunião, o impacto da pandemia de Covid-19 sobre as atividades do PRS Caatinga foi comentado por diversos membros, levantando a importância do apoio das instituições parceiras para a concretização das metas do Projeto.

Francisco Campello, coordenador regional, destacou as ações de campo. – Precisamos enfatizar com as organizações que estão fortalecendo seus APLs a questão da conservação do solo e do uso sustentável dos recursos florestais, pois a Caatinga tem uma forte presença, inclusive com representação da sociedade civil, na Convenção de Desertificação. Por outro lado, precisamos seguir criando alianças estratégicas, especialmente com os fundos verdes, para dar continuidade a um projeto inovador para o semiárido. Acabamos de ser convidados para a 2ª Conferência da Caatinga, que é um evento de grande representatividade e congrega importantes discussões sobre políticas públicas. Esse também é um dos caminhos para avançarmos e levar mais benefícios para o bioma -, afirmou Campello.

“Temos a preocupação de manter a regularidade de investimentos em uma agricultura de baixo carbono no semiárido com apoio do Ministério da Agricultura”, acrescentou Leitão. O projeto hoje está finalizando os planos de trabalho, fruto de um diagnóstico socioambiental, e após a assinatura de contrato com as instituições apoiadas (link matéria), começará a assistência técnica com os agricultores. Os ATER são os profissionais capacitados em TecABC pelo projeto, em parceria com a Univasf (link matéria). São eles que dialogam com o agricultor e facilitam a sua apropriação das TecABC.

Dos 20 Arranjos Produtivos Locais (APLs) apoiados pelo projeto, aqueles que apresentam maior avanço em processos de industrialização, serão especialmente apoiados para uma desenvolver ou fortalecer estratégias de comercialização de seus produtos.

Visões e novas possibilidades de parcerias

Os membros do CTT levaram ideias e possibilidades de novas parcerias em 2022. Luís Rogério Barreto, da Superintendência Federal de Agricultura na Bahia, considera que um pedido de ampliação do prazo de execução do PRS Caatinga é plenamente justificável pelos impactos da pandemia nas suas atividades. Ele destacou que “a assistência técnica é um processo de médio a longo prazo. É necessário tempo para estabelecer uma relação de confiança com os produtores, organizar unidades demonstrativas e começar a ver os seus resultados”.

Daniele Cesano, do Adapta Group, comentou a forte tendência internacional dos financiadores em deixar de investir em projetos a fundo perdido, pois querem retirar a dependência de recursos não reembolsáveis. Atualmente, buscam os chamados “negócios de impacto”, que operam como plataformas com sistema de incubação, capacidade de inovar, gerenciar recursos, tomar empréstimo e ter capilaridade.

Barbara Rahmel, da Fundação Esquiel, concorda com a avaliação do cenário internacional e complementou que a trajetória de crédito para o agricultor geralmente começa com fundos solidários, depois passa pela experiência do microcrédito, até chegar a soluções mais complexas.

Já Paulo Melo, do AgroNordeste, parabenizou o projeto pela produção dos Cadernos PRS Caatinga, que considera uma fonte de informação importante, e destacou a possibilidade de apoio dos Agentes de Desenvolvimento Sustentável, qualificados pelo BNB, nos APLs que estão sendo fortalecidos pelo PRS. Para Melo, o aumento da rentabilidade da agricultura familiar vem de produtos com valor agregado para mercados que prezam por produtos sustentáveis.

Paulo Pedro Carvalho, do Caatinga, afirmou que a agroecologia se torna cada vez mais viável já que aumenta a busca por produtos orgânicos, vindos da agricultura familiar, tanto nos chamados circuitos curtos como em mercados externos. Um meio seria, segundo Carvalho, o estabelecimento de consórcios agroecológicos. “É crescente a procura da sociedade pelos orgânicos. A pandemia colocou em xeque os nossos modelos de produção, o relatório do IPCC nos lançou um sinal vermelho. O projeto do PRS Caatinga é uma oportunidade para trilhar novos rumos”, sublinhou o especialista.