PRS Caatinga e Fundação Araripe inserem bioma no debate de crédito de carbono em áreas de manejo florestal
, , | 22 de novembro de 2022
Parceria desenvolve pesquisas sobre emissão e sequestro de carbono no semiárido e sensibiliza diversas entidades regionais
Enquanto a Amazônia é percebida claramente como um bioma com grande potencial para o mercado de crédito de carbono, a capacidade da Caatinga está ausente dos principais debates. Para dar visibilidade às oportunidades sustentáveis no bioma com o crédito de carbono, a parceria PRS Caatinga e Fundação Araripe vem mobilizando os setores produtivos no intuito de transformar o Manejo Florestal Sustentável (MFS) no principal meio de fornecimento de biomassa florestal (lenha) sustentável para as indústrias que hoje operam na região.
Uma das iniciativas da parceria PRS e a Fundação Araripe é o investimento em pesquisas no campo do crédito de carbono em áreas de manejo na Caatinga. A ideia desse estudo é levantar dados inéditos para sensibilizar as empresas locais quanto às vantagens de atenderem suas demandas energéticas, conservando as paisagens, os serviços ecossistêmicos e promoverem o crédito de carbono. Em outras palavras, fazerem a compensação de suas emissões de gases de efeito estufa com ações para a conservação da floresta.
Entre os setores já mobilizados está o Polo Gesseiro de Pernambuco, responsável por mais de 90% da produção de gesso de todo o Brasil. Um dos principais problemas do segmento é que a sua principal matriz energética é oriunda de desmatamentos e comércio ilegal de biomassa florestal. Cenário que o investimento em produção sustentável pode ajudar a transformar, com a prática do MFS, que é uma das Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono (TecABC).
Mobilização de setores industriais para repensar sua matriz energética
A Fundação Araripe está buscando mobilizar organizações setoriais, como o Sindicato da Indústria do Gesso (Sindugesso) e a Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), para promover soluções sustentáveis que possam alcançar escala industrial.
– De um modo geral, as pessoas sabem sobre o crédito de carbono pela televisão, internet, mas têm dificuldades em enxergar a sua aplicação e os potenciais benefícios na Caatinga. A nossa ideia é organizar a questão de oferta e demanda de energia na biorregião do Araripe, buscando conciliar a necessidade da indústria com a questão socioambiental do seu entorno. A estratégia é divulgar o MFS em eventos que juntem agricultores familiares, pequenos e médios proprietários de imóveis rurais e empresários para que ambos percebam que é possível manter a Caatinga em pé e as indústrias funcionando se adotarmos adequadamente a proposta do manejo sustentável de florestas -, afirmou a coordenadora técnica da Fundação Araripe, Alinne Freire.
Ao ser apresentada aos objetivos do PRS Caatinga, a equipe da Fundação Araripe refinou a sua visão sobre o manejo sustentável, uma tecnologia com uma base técnica consolidada no Nordeste por conta da Rede de Manejo Florestal da Caatinga. “O PRS é estratégico para o nosso semiárido por abrir discussão em relação à agricultura de baixo carbono. A gente já tem famílias agricultoras que realizam atividades que beneficiam o solo e auxiliam a fixação de nitrogênio. Só que a gente não focava nisso”, disse a especialista.
Pesquisas inéditas sobre aspectos climáticos e socioeconômicos do manejo sustentável
A proposta da Fundação Araripe vai além da implementação de Unidades Demonstrativas e Multiplicadoras em TecABC e inclui a mobilização de setores da indústria e a realização de pesquisas sobre a emissão e o sequestro de carbono, em parceria com a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). “Pretendemos discutir também o impacto socioeconômico do manejo, por ser uma alternativa para gerar renda, principalmente na época de seca, quando os agricultores não conseguem mais manter as suas plantações”, comentou Alinne.
O engenheiro florestal Eliseu Toniolo, responsável técnico que assessora uma Unidade Demonstrativa implantada na propriedade do produtor Genário Aquino, em Exu (PE), acredita que o MFS pode vir a zerar a emissão de carbono resultante da queima da lenha ou do carvão, utilizados como matriz energética pelas empresas locais. “Estudos apontam que em propriedades que já estão no segundo ou terceiro ciclo, o volume inicial inventariado aumentou em torno de 30%, o que representa um ganho em cima do sequestro de carbono por conta da rebrota. Com o PRS Caatinga, estamos avaliando esses resultados para verificar a eficácia do manejo”, enfatizou Toniolo.
“Estamos plantando água e empregando pessoas”, diz produtor
O agricultor Genário Aquino, de Exu (PE), comprou suas terras em 2008. No entanto, até há pouco tempo, não sabia como contribuir com a questão climática. No entanto, por acreditar no que dizem as pesquisas científicas e ter interesse em aprender, ele fez questão de se associar ao PRS Caatinga. “Recebi o convite da Fundação Araripe para executar ações em minha propriedade. É um prazer participar e saber que estou ajudando a combater as mudanças climáticas. Hoje sei que mais que uma obrigação, é um dever, pois precisamos pensar no futuro”, disparou.
E acrescentou que “no manejo sustentável não existe desmatamento, nem queimada. Quando trabalhamos em um talhão, retirando apenas o necessário, em 6 meses já acontece a rebrota, fica tudo verdinho. Estamos ‘plantando água’, pois estamos aumentando a absorção da umidade e segurando o carbono na terra. Além de todos esses benefícios, ainda consigo empregar a mão de obra de 60 famílias, o que é uma das minhas maiores satisfações”.