PRS Caatinga e Agrodóia fortalecem extrativismo e agroindústria sustentáveis com tecnologias de baixo carbono

Anne Clinio, Patrícia Lyra | 7 de dezembro de 2022

Iniciativas proporcionam a consolidação do ciclo da cadeia produtiva de produtos beneficiados, do plantio à comercialização

Fortalecer todo o ciclo de produção de diversas culturas, a partir das experiências e engajamento da agricultores familiares e incentivo ao extrativismo sustentável, é um dos objetivos da Associação dos/as Agricultores/as Familiares da Serra dos Paus Dóias – Agrodóia, organização parceira do PRS Caatinga no município de Exu, região do Araripe, em Pernambuco.

Historicamente, a Agrodóia adota mecanismos para inserir as comunidades vizinhas em oportunidades de aprendizado e trabalho. Por isso, adota metodologias e abordagens para que os agricultores e agricultoras participem das várias etapas do ciclo de produção. A associação investe na formação de produtores e produtoras em técnicas de plantio e colheita, oportunizando a sua participação também no beneficiamento e venda de produtos dentro dos preceitos do comércio justo e solidário. A ideia é que os benefícios retornem para a própria comunidade através da merenda escolar de qualidade e da geração de renda.

Com o PRS Caatinga, a Agrodóia está implementando as tecnologias de baixo carbono da Recuperação de Áreas Degradadas (RAD) e de Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) em 4 Unidades Demonstrativas e 26 Unidades Multiplicadoras, reunindo 30 famílias das comunidades Serras dos Paus Dóias, Geladeira, Solidão/Boa Fé, Perua e Sítio Barrinha. As unidades são ambientes utilizados para visitação, capacitação,e difusão das tecnologias de baixo carbono e de práticas produtivas em agrofloresta, respeitando a diversificação do plantio de espécies nativas e a incorporando novas, que fornecem alimentos para as famílias e animais. Essas espécies – como a mandioca, cambuí, murta, entre outras – , são matéria prima para o beneficiamento caseiro ou na agroindústria.

Equipe Agrodoia em campo
Vilmar defende ajustes em práticas tradicionais, alinhado com as TecABC

O coordenador técnico Vilmar Lermen, destaca as atividades desenvolvidas pela Agrodóia que adotam abordagens que permitem a difusão de diversos sistemas produtivos com base nas tecnologias de baixa emissão de carbono nas comunidades.

“Fazemos a inclusão das TecABC, previstas no Projeto, através de atividades de manejo das áreas de pastagens, quintais produtivos, roçados e sistemas agroflorestais que já existiam e estão sendo gradativamente ajustados e que podem minimizar as questões das mudanças climáticas. Trabalhamos também com o extrativismo florestal. Uma vez que os frutos nativos são parte da matéria prima para o fornecimento e beneficiamento da agroindústria, que traz trabalho e renda para as famílias agricultoras com a inclusão de todos os componentes da família e lidando, inclusive, com questões de gênero e a sucessão rural. Essas atividades vêm sendo fortalecidas pelo PRS Caatinga e já percebemos resultados”, explicou Vilmar.

Agroindústria promove geração de renda de forma sustentável

Um exemplo de fortalecimento do ciclo de produção está na cultura da mandioca cultivada pelos agricultores e agricultoras familiares inseridos no Projeto, e que produzem sequilho de goma na Unidade de Beneficiamento de Frutas Nativas e Cultivadas. Os agricultores e agricultoras atuam no plantio, mas também participam do beneficiamento e comercialização de produtos – seja como merenda escolar, através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), seja no mercado, por meio de feiras. No segundo semestre de 2022, a Agrodóia fechou seu segundo contrato com o PNAE, no valor de R$115 mil, para fornecimento dos produtos beneficiados, como colorau, sequilhos e frango abatido para as escolas públicas no município de Exu.

Silvanete incentiva a inclusão de comunidades em todo ciclo de produção

Essa ação é liderada pela agricultora familiar Silvanete Lermen, que também atua como articuladora e facilitadora de cursos de capacitação, que comenta:

“Nesse processo da cadeia produtiva que trabalhamos, uns plantam e colhem, outros beneficiam a mandioca que vai para para casa de farinha e é transformada em goma, e na agroindústria em sequilho de goma. Esse produto vai para a merenda escolar e é consumido pelo próprio aluno que o produziu e que fica cheio de orgulho, quando os colegas elogiam o fruto do seu trabalho. Esse resultado é muito gratificante! E ainda queremos ampliar essa cadeia, estimulando a produção de outros insumos como o ovo. Com o PRS Caatinga, podemos fazer essa aproximação com a comunidade e construir essa corrente que vai do plantio até o consumo”, disse Silvanete.

E complementa: “O Projeto consegue fazer com que essas famílias possam planejar sua própria roça, planejar a sua própria terra. Sonhar que é possível continuar ali junto com seus filhos, com sua esposa, com seu esposo e principalmente planejar seu futuro e começa a perceber um mundo de possibilidades e de oportunidades e potência. E quando você potencializa sua comunidade é possível sim, você criar estrutura de fato, que pode até parecer ser pouco, mas a gente parte daquele princípio de que o pouco com Deus é muito. E quando a gente agradece, ela se transforma em abundância, então é justamente esse agradecimento de transformação que permanece no nosso pensamento, nas nossas atitudes”,

Metodologia valoriza saberes tradicionais e investimento em processos coletivos

A Agrodóia investe fortemente em processos coletivos que constroem possibilidades de futuro e redes que compartilham melhorias produtivas, processos formativos, parcerias e ações de comunicação. As atividades de aprendizado fazem parte da rotina de atividades da organização e sua metodologia reconhece os conhecimentos e experiências dos participantes, valorizando os saberes tradicionais e as práticas acumuladas ao longo de gerações. Essas riquezas locais dialogam com a adoção das TecABC no semiárido.

A comunicação, utilizada para a difusão de boas práticas, é uma área também trabalhada e valorizada pela organização, que estimulou a formação de um grupo de jovens, antenados com os novos formatos de mídias. São eles que divulgam as ações do Projeto em suas redes sociais, com material apurado, compilado e difundido nos canais próprios e de parceiros.

Aprendizado, novas oportunidades e diminuição do êxodo rural

Damião comemora o fato de poder trabalhar junto a família

A partir dos conhecimentos sobre tecnologias de baixo carbono, assistência técnica e outros investimentos do PRS Caatinga, os agricultores e agricultoras estão trabalhando de forma sustentável e rentável na sua própria terra, permitindo que fiquem próximos aos seus familiares, como no caso de Damião Gonçalves.

“Agora que entramos para a associação e estamos trabalhando de forma correta, trazendo melhoria para a nossa terra – com menos degradação do solo, preservando nossas árvores e investindo em agrofloresta com maior foco na produção -, não precisamos sair da região para trabalhar e ficar longe da nossa família, para correr atrás de melhorias. Já estamos trabalhando com a reutilização das águas, pois não temos suficiente na nossa propriedade e queremos criar umas galinhas. A renda que buscamos lá fora, hoje podemos conseguir aqui na terra da gente”, comentou o agricultor.

Leiliane acredita que o Projeto traz oportunidades para ela e sua família

A agricultora Leiliane Morais falou sobre suas conquistas a partir da participação no Projeto.

“Entrei no PRS Caatinga e estou muito feliz porque estou tendo oportunidades de ver um futuro melhor para a minha família, para minha vida e a dos meus filhos – tanto na parte de produção, quanto na renda. Antes não tínhamos noção de como era produzir e, graças a Deus, estamos tendo uma orientação muito boa. Gostaria muito de ter uma renda melhor e tudo está sendo muito produtivo. Trabalhando aqui na agroindústria, estamos tendo noção de como é realmente ter uma renda. Quero ter uma produtividade melhor, com cultivos de frutas e ovos e expandir para nossa comunidade, para que eles tenham também uma renda futuramente. Sou muito grata por ter essa oportunidade que estou vivendo aqui na associação e na agroindústria”, comentou.

Colaboração: Fernanda Lermen