Na imprensa: “Levar as tecnologias de baixo carbono ao semiárido é uma espécie de ousadia”, diz Pedro Leitão
| 13 de novembro de 2021
Diretor do PRS Caatinga fala da experiência de unir, pela primeira vez, TecABC e agricultura familiar
O PRS Caatinga segue na disseminação das Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono (TecABC) voltada a pequenos e médios produtores, no semiárido, inserindo tais atores, que são a base da agricultura familiar, no debate global sobre as mudanças climáticas. A TecABC enquanto terminologia é recente. Por isso, o diretor do PRS Caatinga, Pedro Leitão, explica nesta entrevista ao programa “Entre um café, uma prosa”, da TV Caatinga, a experiência de levar para bioma, pela primeira vez, novos conhecimentos e práticas que promovam a sustentabilidade.
TV Caatinga: Para quem nunca ouviu falar em TecABC, mas tem interesse nos grandes temas ambientais da atualidade, o que é agricultura de baixa emissão de carbono?
Pedro Leitão: Agricultura de baixo carbono é aquela que tem uma preocupação com o clima. Nós vivemos hoje uma crise climática com excesso de emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, principalmente de carbono. Esse excesso causa o efeito estufa. Na prática, os raios do sol não conseguem rebater e ficam presos na atmosfera, aquecendo o planeta – o que implica em alterações de temperatura, desregulação da natureza e de toda estrutura que a gente tem na última era: gelo, oceanos e florestas. O aumento da temperatura impacta nisso tudo. Então, a crise climática requer que esforços de toda sorte sejam feitos para evitar a emissão de gases e para capturar carbono. Precisamos fixar carbono e nitrogênio no solo. A agricultura de baixo carbono é uma agricultura que se adequa às agendas climáticas, evita a emissão de GEE e promove adaptação às mudanças que já existem como decorrência das mudanças climáticas. Os esforços globais visam até mesmo zerar as emissões de carbono e adaptar as espécies agrícolas às condições atuais de clima e temperatura do planeta.
TV Caatinga: De que forma as TecABC podem ser acessadas pelos pequenos e médios produtores?
Pedro Leitão: A agricultura de baixo carbono surge como uma resposta de origem mais técnica do que prática e permite mensurar quanto carbono está sendo fixado no solo, por exemplo. O que o pequeno agricultor precisa fazer para praticar agricultura de baixo carbono seria não apenas absorver tecnologias, como a Integração Lavoura – Pecuária – Floresta (ILPF), como também se apropriar dessas tecnicalidades associadas à agenda de clima para receber os seus benefícios. Hoje em dia, temos benefícios econômicos para quem deixa de emitir carbono, para quem pratica proteção de floresta. São os chamados pagamentos por serviços ambientais, que estão previstos na legislação brasileira e no mundo. Não seria só uma questão de eficiência agropecuária, mas uma oportunidade de acesso a outros recursos disponíveis. A agricultura de baixo carbono, na origem, não foi pensada para o pequeno agricultor, mas sim para a grande agricultura, como a praticada no Cerrado, na produção de soja, por exemplo. O que nós estamos fazendo no semiárido é a primeira tentativa de levar a agricultura de baixa emissão de carbono, que é a mais próxima da natureza, para o pequeno produtor da agricultura familiar. É um grande desafio mostrar que a Caatinga tem essa contribuição para a agenda climática.
TV Caatinga: O senhor atua na captação de recursos. De que forma as instituições da Caatinga podem buscar novos recursos?
Pedro Leitão: Há um mercado nacional e internacional de recursos para projetos associados a determinados temas. Os governos podem lançar editais eventualmente e é importante ficar atento a essas oportunidades. Outra fonte interessante são os recursos de cooperação internacional. O PRS Caatinga é um exemplo. O governo do Reino Unido ofereceu recursos para o Brasil porque nós somos um dos maiores emissores de gases de efeito estufa. Interessa a eles reduzir nossas emissões porque o impacto disso é global. No caso do Brasil, um dos maiores fatores de emissão é a agricultura. Principalmente a conversão de uso do solo, a derrubada de florestas e a conversão de florestas em áreas agropecuárias. Há vários outros programas, esse é apenas um exemplo. A Noruega, a Dinamarca e a França também são países que têm agências de cooperação e programas importantíssimos. É preciso estar atento a essas oportunidades e elaborar os projetos.
TV Caatinga: O curso de especialização de Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono, do PRS Caatinga em parceria com a Univasf, é o primeiro do Brasil. Qual é a importância dessa iniciativa para a sustentabilidade no semiárido?
Pedro Leitão: Levar as tecnologias agrícolas de baixo carbono ao semiárido é uma espécie de ousadia. O semiárido não é reconhecido por áreas extensas de produção, mas, na verdade, é no semiárido que se concentra o maior número de unidades produtivas de agricultura familiar no Brasil. Desconheço, mesmo em outros biomas, um curso de tecnologias de baixo carbono, como estamos fazendo. Acreditamos que a melhor estratégia é formar esses profissionais em extensionismo rural e levar esses conhecimentos ao pequeno agricultor – e é isso que estamos fazendo. Estamos capacitando 600 profissionais que vão promover essa transição. Temos a preocupação de trabalhar em redes. Rede é uma palavra-chave para nós. Queremos criar uma rede de especialistas e instituições que assumam essa agenda no semiárido.