Mulheres rurais: grande em números, conquistas e desafios

Patrícia Lyra | 15 de outubro de 2023

Cada vez mais mulheres assumem a condução das famílias agricultoras no semiárido

No semiárido brasileiro, um número expressivo de mulheres encontra-se à frente da condução de famílias agricultoras. Elas se dividem em vários papéis: provedoras do sustento da família, produtoras, empreendedoras, líderes de suas comunidades e gestoras de seu negócio. Ainda assim, muitas continuam a enfrentar preconceito e resistência de suas famílias e comunidades.

Desde sua concepção, o Projeto Rural Sustentável Caatinga (PRS Caatinga) tem como meta o fomento a uma maior inclusão econômica e social das mulheres. Ao longo dos quatro anos de implementação, foram realizadas inúmeras ações, como a compra de bens coletivos que facilitaram o trabalho pesado na roça, para dar a elas mais oportunidades de inclusão e renda.

Dentro do Projeto, as mulheres mostraram-se essenciais para a adoção das Tecnologias de Baixa Emissão de Carbono (TecABC). Coube a elas, muitas vezes, a decisão final de incluir suas famílias no Projeto. “Uma equipe do PRS Caatinga visitou a escola do meu filho. Quando ele me explicou o que era o projeto, decidi que deveríamos participar, afinal, se é para melhorar, por que ficar de fora?”, lembra Osvaldina de Macedo Paixão, beneficiária por meio do Arranjo Produtivo Local (APL) Obra Kolping, em Betânia, Piauí

A inclusão também foi bastante incentivada entre os jovens, como aconteceu com Caroline Tavares, técnica em agropecuária e Agente de Desenvolvimento Local da cidade de Major Isidoro (AL). “Como jovem, mulher e técnica, digo que não é fácil, mas continuamos avançando e alcançando nosso lugar. É muito gratificante, como mulher, falar que trabalho em uma área que há muito tempo é considerada ‘de homem’ , mas que atualmente observamos várias mulheres atuando. Isso é a força feminina, a prova de que juntas conseguimos”, comemora ela, hoje técnica de campo do APL Instituto Irmã Dorothy.

Mulheres rurais protagonistas de suas histórias

Em todos os 20 APLs foram inúmeras Marias, Joanas e Conceições produzindo muito. Não só os insumos agrícolas, mas ensinamento e aprendizagem, troca de saberes, força de vontade, superação e alegria na luta diária pela dignidade de suas famílias.

A apicultura Jocivânia Cavalcanti, da comunidade da Serra do Ingá, em Exu (PE), foi uma das que teve acesso a capacitações e troca de conhecimento, participando pela primeira vez de um intercâmbio de saberes. promovido pelo APL Fundação Araripe. “O Projeto PRS Caatinga chegou para mudar o meu ponto de vista e das minhas colegas, ensinando o que a gente às vezes faz sem saber, sem muita experiência. Hoje, a gente já faz com mais qualidade. Participamos do intercâmbio no Piauí e isso abriu nossos olhos. A gente conheceu a Comapi, uma cooperativa de mel que também participa do PRS Caatinga. Imagine para uma apicultura que está começando, com aquele desejo de crescer, conhecer tudo aquilo! Fez com que crescesse nosso desejo de fazer cada vez mais”.

Conhecimento técnico trouxe empoderamento

O conhecimento adquirido e compartilhado entre as beneficiárias não mudou apenas a forma de produção, mas também impactou questões ligadas ao posicionamento como mulher, proporcionando empoderamento. Foi o caso da agricultora de Porto da Folha (SE), Maria Luzinete Dória. “O projeto é muito valioso, por dar maior visibilidade às mulheres e jovens. O PRS nos ensinou a ser mulheres mais empoderadas. Para mim, esse foi um grande avanço. As mulheres são resistências e sem o feminismo, não a convivência”, falou entusiasmada a beneficiária atendida pelo APL CDJBC.

Apesar desses números significativos, em algumas ocasiões o papel e a importância das mulheres não são valorizados, muitas vezes, devido a normas sócio culturais, fazendo com que sua opinião e participação nos momentos de decisão sejam renegados. Na Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes – COMAPI, no Piauí, algumas mulheres estão mudando essa história, tomando a frente de seu empreendimento.

A coordenadora da Comapi, Janete Dias, nos dá um exemplo: “Na cooperativa sempre evidenciamos a importância da representatividade feminina, investindo nas mulheres, propiciando espaço, mas muitas vezes elas trabalham, tomam as decisões, são responsáveis, mas colocam, quando possível, o marido ou o filho como os responsáveis na ponta. Mas essa realidade está mudando, já temos algumas famílias inseridas na apicultura que a mulher é a chefe da família e a tomada de decisão em relação ao uso do “dinheiro” normalmente cabe às mulheres”, explica.

Por todas essas razões, é necessário lembrar o Dia Internacional da Mulher Rural, comemorado neste 15 de outubro. Proposta há pela Fundação WWSF (Women’s World Summit Foundation), em 1995, a data só passou a fazer parte do calendário internacional apó sua adoção pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2007.