I Fórum de Negócios da Sociobioeconomia da Caatinga aponta para necessidade de políticas públicas que valorizem o bioma e os pequenos produtores

Patrisia Ciancio | 30 de março de 2023

Reconhecimento da Caatinga na Constituição e dos agricultores familiares no Plano ABC+ foram reivindicados no evento

Os convidados da mesa de abertura do I Fórum de Negócios da Bioeconomia da Caatinga destacaram questões políticas, de âmbito nacional, que impactam no desenvolvimento de uma agricultura de baixo carbono no semiárido. Foram citadas ações estratégicas como o reconhecimento da Caatinga enquanto bioma na Constituição Brasileira – essa ausência aumenta a escassez de projetos, investimentos e recursos -, e a inclusão da perspectiva do agricultor familiar no Plano ABC+, principal política pública que orienta a implementação da agricultura de baixo carbono no País.

Professora Lucia Marisy

“O agricultor da Caatinga não mata, não queima, não usa agrotóxico. Nós na academia estamos preocupados para que os agricultores familiares sejam inseridos no documento do Plano ABC+. Por isso, estamos desenvolvendo uma apresentação de modelo contratual para que os agricultores familiares possam receber por serviços ambientais”, explicou a professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial (PPGADT) da Unversidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Lúcia Marisy.

“Do ponto de vista legal, a Caatinga ainda não se constitui como bioma, então os recursos destinados ainda são reduzidos. Precisamos inserir essa reivindicação como pauta no Congresso Nacional”, complementou Lúcia.

“Cooperativismo deve ser fortalecido na agricultura familiar”, destaca representante do MAPA

Paulo Eduardo de Melo, diretor do AgroNordeste, plano criado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) para impulsionar, por meio da integração de ações e políticas públicas, o desenvolvimento econômico, social e sustentável da região, enfatizou que “existe pouca penetração da ideia cooperativista entre os produtores”.

Paulo Melo, do AgroNordeste

– O MAPA herdou a missão cooperativista na reformulação do governo. No nosso relacionamento, precisamos entender o que o mercado quer. Não somente em termos de diversidade de produtos, mas também como torná-los conhecidos. E ofertá- los da forma que o mercado quer e não como nós conseguimos produzir. Validade, tamanho, volume, embalagem. Não adianta oferecer produtos aos quilos, as embalagens são grandes, não vão caber nos apartamentos e nem nas geladeiras. Essa conexão é importante, fazer chegar os produtos com uma apresentação adequada, selos e garantias -, detalhou Melo.

De acordo com o diretor, o PRS Caatinga está ajudando a instrumentalizar respostas com métricas que vão apontar também qual é a capacidade que o produtor tem de fixar carbono, essencial para o mercado de crédito de carbono.

“A perda de uma espécie animal ou vegetal é incalculável. A gente começa a caminhar nessa direção, no sentido de inquietude, de levantar essas questões aos tomadores de decisões. São muitos os serviços ecossistêmicos que a agricultura familiar presta que o produtor não vem sendo reconhecido nem remunerado por isso, da forma que merece”, sublinhou o diretor do AgroNordeste.

Renovação do AgroNordeste irá enfatizar a bioeconomia e a sustentabilidade

“A nova etapa do AgroNordeste vai levar em consideração aspectos relacionados à bioeconomia e sustentabilidade. Isso vai estar muito mais presente de maneira explícita, na renovação do programa. As portas do nosso programa estão abertas a todos”, concluiu.

Já na visão do coordenador Nacional do Projeto Bem Diverso e pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Anderson Sevilha, o fortalecimento das cooperativas para acessar mercados significa pensar em continuidade. Não basta executar projetos de curta duração, são necessários investimentos de longo prazo, acompanhamento e monitoramento.

Anderson Servilha, do Projeto Bem Diverso

– Precisamos entender a complexidade disso e pensar que essas comunidades estão trabalhando em vários eixos, como conservação, manejo e restauração dos agroecossistemas para poderem produzir um produto que venha com valor de qualidade ambiental, social e cultural, para poder comercializar isso diretamente ou entrar em uma cadeia de processamento e agroindustrialização. Além disso, os produtores precisam dominar técnicas de mercado e fazer a gestão dos empreendimentos. Outro ponto é que esses produtos existem mas as pessoas não sabem que esses produtos existem. Uma das questões que precisamos trabalhar é o próprio crédito e a educação financeira. Nós do Projeto Bem Diverso desenvolvemos o modelo de ativador de crédito comunitário. A importância dos jovens também é essencial, comunicadores populares, precisamos dar ferramentas para esses meninos. Esses jovens estão desenvolvendo páginas e sites de comercialização. A Central da Caatinga é um exemplo, com apoio do Bem Diverso. É preciso ter um espaço de formação, e também a realização de feiras locais -, explicou Sevilha.

Saiba mais

O I Fórum de Negócios da Sociobioeconomia da Caatinga aconteceu no dia 14 de março, no Espaço Plural da UNIVASF, em Juazeiro (BA). Assista ao evento na íntegra em:

https://www.youtube.com/watch?v=EnB...