Dia Nacional da Segurança Alimentar: Tecnologias de baixo carbono são a chave para uma produção agrícola diversa e de maior qualidade
| 6 de junho de 2023
Agricultura familiar promove diversidade de espécies e a inclusão socioeconômica
A agricultura familiar brasileira desempenha um papel crucial não apenas no fornecimento de alimentos, mas também na promoção da preservação ambiental. Para torná-la ainda mais sustentável, o Projeto Rural Sustentável Caatinga (PRS Caatinga) promove a adoção das tecnologias de baixo carbono no semiárido nordestino, em parceria com 20 Arranjos Produtivos Locais (APLs).
Como atividade econômica, social e cultural de extrema relevância, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) declarou 2019-2028 a Década da Agricultura Familiar. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a agricultura familiar responde por cerca de 70% dos alimentos consumidos no Brasil.
Na Caatinga, é ainda mais relevante, pois para muitos significa o próprio sustento. Mas a prática também foi fundamental para o enfrentamento da crise provocada pela pandemia de COVID-19. Os agricultores familiares da região mostraram uma resiliência extraordinária, fornecendo alimentos saudáveis para as populações locais, mesmo em áreas mais isoladas.
Além disso, a agricultura familiar promove a diversidade cultural e alimentar, garantindo não só a oferta de alimentos durante todo o ano, como também uma oportunidade de uma renda mais regular para os produtores e aumento na diversidade de alimentos. Mas mesmo com tantos desdobramentos positivos, a prática ainda enfrenta desafios como o acesso ao crédito e estímulo ao desenvolvimento dos pequenos negócios.
Cooperativas locais são alternativas para agricultores agregarem valor a produtos
Uma alternativa para driblar esses obstáculos é a formação de cooperativas agrícolas, também fomentadas pelo PRS Caatinga.
“Por meio das cooperativas locais, os agricultores familiares podem aprimorar seus produtos e agregar mais valor a eles, promovendo a riqueza cultural e regional. Essas cooperativas permitem que os produtos da agricultura familiar sejam acessados em âmbitos regional, estadual e até mesmo internacional”, explica Luciana Vila Nova, que integra a equipe do projeto, especialista em sociobioeconomia.
Um exemplo notável é o Estado do Piauí, na região da Caatinga, que se tornou um dos maiores produtores e exportadores de mel do Brasil, com cooperativas parceiras do projeto que atuam diretamente com esse produto: Comapi, Carnaiba, Piauiflora.. Essa conquista foi alcançada por meio de práticas de produção sustentáveis, que incluem a agricultura familiar e o uso de modelos agroecológicos, livres de agroquímicos e pesticidas.
“É preciso valorizar modelos sustentáveis”, diz a especialista
Uma maior entrada da produção da agricultura familiar em maiores mercados traz ainda um outro benefício: melhor qualidade de alimentos. A industrialização dos alimentos muitas vezes resulta em empobrecimento nutricional, associadas a um aumento de doenças relacionadas a uma alimentação pouco diversificada e enriquecida com aditivos que no uso acumulado podem promover uma série de alterações.Mais de 90% da alimentação humana concentra-se em cerca de quinze cadeias produtivas, sendo que temos milhares de possíveis produtos alimentícios.
Os números comprovam. Segundo o Anuário Estatístico da Agricultura Familiar 2022 da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), a agricultura familiar responde por 23% do valor bruto da produção agropecuária brasileira e pela dinamização econômica de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes (68% do total). A sua importância é estratégica para o Brasil e para o mundo, pois é a oitava maior produtora de alimentos do planeta.
“Em um mundo no qual a industrialização do alimento se tornou predominante, é fundamental resgatar e valorizar os modelos de produção sustentáveis e baseados na agricultura familiar. Somente através do apoio e da valorização da agricultura familiar poderemos garantir uma alimentação saudável, nutritiva, o combate a desnutrição e mais segurança alimentar, principalmente nos municípios brasileiros, aonde também o custo dos alimentos processados é mais alto, acarretando inclusive perda da cultura local”, diz Luciana.
Imagem principal: João Vital