Dia Nacional da Caatinga: “Produzir para conservar. Conservar para produzir”
| 3 de maio de 2022
Convidados especiais enriqueceram o debate com reflexões sobre o processo histórico e o futuro do bioma
Com o tema “Produzir para conservar. Conservar para produzir”, o PRS Caatinga promoveu no Dia Nacional da Caatinga, 28 de abril, um debate online sobre atividades que historicamente foram entendidas como oponentes: produzir e conservar. No entanto, na realidade são ações complementares, e se articuladas em conjunto, podem ser muito produtivas, atendendo às necessidades da região e das gerações futuras.
Além da participação de lideranças do Projeto, levaram ao evento reflexões sobre o processo histórico e o futuro da Caatinga os convidados José Carlos Carvalho, ex-ministro do Meio Ambiente, e Bráulio Ferreira de Souza Dias, ex-secretário executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). O debate foi transmitido pela TV Caatinga.
– No Brasil criou-se uma falsa contradição entre ruralistas e ambientalistas, como se fossem questões antagônicas. Como se não fosse possível produzir conservando e conservar produzindo. No nosso processo histórico, a ocupação territorial se deu com supressão da cobertura vegetal. Então, no fulcro de todas as questões que o Brasil discute ainda hoje em relação à conservação florestal, estão relacionadas sobretudo às práticas predatórias de uso da terra, que vêm da Colonização, passaram pelo Império e entraram na República -, detalhou Carvalho.
Com os pés na perspectiva histórica, Carvalho também direcionou o olhar para o futuro afirmando que o desafio agora é criar políticas públicas que desenvolvam oportunidades para uso sustentável das florestas. “Temos na Caatinga o maior potencial de regeneração natural. Seria o bioma mais fácil para se praticar a sustentabilidade. Mas a visão de comando e controle impede de autorizar projetos de manejo na Caatinga. Temos ciência, temos tecnologia, não podemos continuar em um modelo que cria barreiras”, disparou o especialista.
“O Brasil nunca teve uma política de desenvolvimento florestal”
O especialista Bráulio Ferreira, um dos autores do livro “Estratégias de adaptação às mudanças do clima dos sistemas agropecuários brasileiros”, complementou a crítica de Carvalho dizendo que “o Brasil nunca teve uma política de desenvolvimento florestal”. Segundo Ferreira, a tradição pelo modelo ‘comando, controle e proibição’ vigora até os dias de hoje, enquanto deveriam ser criados incentivos para a exploração sustentável dos recursos naturais. E ainda acrescentou:
– Estamos na Década de Restauração de Ecossistemas, da ONU. Os recursos naturais da Caatinga devem ser vistos como uma solução. A sua regeneração é benéfica porque aumenta a retenção de água, melhorando o clima local. Não nos falta informação científica, mas programas públicos para incentivar o uso das tecnologias. Precisamos nos atentar, pois a Caatinga tem um potencial muito grande, mas também riscos muito grandes. Os impactos ambientais na Caatinga vão ocasionar riscos sociais e econômicos imensos -, alertou.
Agricultor familiar é parte da solução das questões climáticas
O debate teve mediação do coordenador regional do PRS Caatinga, Francisco Campello, que chamou atenção sobre o papel do agricultor familiar; e do diretor Pedro Leitão, que falou sobre as estratégias para fomentar a adoção de Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono (TecABC) no semiárido. Leitão citou o Programa de Capacitação, realizado pelo Projeto em parceria com a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), e o apoio para fortalecimento de 20 Arranjos Produtivos Locais Sustentáveis em cinco estados do Nordeste.
– O PRS Caatinga está promovendo um diálogo entre as tecnologias sociais de convivência com o semiárido e as tecnologias agrícolas de baixo carbono. Existem muitas oportunidades nesse campo, como o pagamento por serviços ambientais, por carbono evitado. É um mercado em potencial. Não se quer uma visão da Caatinga triste e estereotipada, mas uma visão realista, pois tem problemas, mas também há soluções. E temos uma resposta muito positiva das populações quanto ao que estamos desenvolvendo nos estados -, disse Leitão enfatizando que o próximo nível de diálogo será entre as TecABC e a bioeconomia ou economia ecológica.