Lições da agricultura familiar para uma vida com menos agrotóxicos

Patrisia Ciancio | 11 de janeiro de 2023

Tecnologias de baixo carbono combinadas a saberes tradicionais fortalecem a etnoecologia para uma Caatinga mais sustentável

A agricultura familiar comprova pelo equilíbrio biológico dos agroecossistemas que é possível ter uma vida livre de agrotóxicos. Até mesmo em situações de plantio e colheita em larga escala, há alternativas sustentáveis que tornam possíveis esse caminho. Na Caatinga, onde a atividade de produção de orgânicos predomina, o fomento às Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono (TecABC) se somam aos conhecimentos tradicionais da Convivência com o Semiárido. Por isso, o bioma oferece lições importantes sobre sustentabilidade e estratégias para fortalecer a etnoecologia. Em outras palavras, o estudo dos conhecimentos dos habitantes de uma região na sua relação com o meio ambiente em que vivem com a intenção de promover um diálogo com conhecimentos científicos para encontrar caminhos harmoniosos de convivência dos seres humanos com a Natureza.

Ricardo Ramalho, do Instituto Terraviva

O Instituto Terraviva, parceiro do PRS Caatinga em Alagoas, atua há duas décadas com práticas que visam o bom uso do solo, da água e dos recursos naturais, destacando-se sua atuação por uma agricultura livre de agrotóxicos.

Segundo Ricardo Ramalho, coordenador técnico da organização, o curso natural da agricultura familiar é o emprego das tecnologias de baixo carbono. Além da sustentabilidade, elas também tornam os negócios dos pequenos agricultores e agricultoras mais competitivos e preparados para a comercialização.

Nesta entrevista pelo Dia Nacional do Controle da Poluição por Agrotóxicos, 11 de janeiro, Ramalho explica o cenário:

PRS Caatinga: Qual é a importância da agricultura de baixo carbono, no campo da agricultura familiar, como exemplo de uma prática livre de agrotóxicos?

Ricardo Ramalho: A agricultura familiar, por suas características socioambientais, tende à adoção de tecnologias de baixo carbono. Até por questões de competitividade com os grandes negócios agropecuários que, em geral, empregam métodos e insumos convencionais, para obtenção de melhores preços na oferta de produtos orgânicos ou livres de agrotóxicos. Além disso, há limitações de áreas agricultáveis e recursos de mecanização. Muitas estratégias etnoecológicas são, comumente, utilizadas no controle de pragas e doenças das lavouras. Os arranjos produtivos utilizados, como consórcios tradicionais, até a formação de Sistemas Agroflorestais, preconizados como TecABC, permitem um melhor equilíbrio biológico dos agroecossistemas e, assim, o controle sanitário se faz sem o uso de agrotóxicos.

PRS Caatinga: Que lições a agricultura familiar oferece nesse sentido, sobretudo com o recorte regional da Caatinga?

Ricardo Ramalho: A Caatinga com sua biodiversidade exuberante e peculiaridades climáticas, para ser manejada de forma sustentável, requer conhecimento de suas reações ecológicas. Nessas são descobertos conhecimentos que se acumulam e apresentam respostas para intervenções que visem superar dificuldades na produção de forragens, madeiras, grãos, méis e uma série de itens importantes para agricultoras e agricultores familiares. As respostas para esses obstáculos podem ser buscadas na interação dos conhecimentos do saber popular e das recomendações técnicas. A isso denominamos etnoecologia. Esse é o caminho.

PRS Caatinga: Como o Instituto Terraviva atua nesse campo e em parceria com o PRS Caatinga?

Ricardo Ramalho: O Instituto Terraviva detém um histórico de atuação no bioma Caatinga de, pelo menos, duas décadas. Na área de controle fitossanitário tem divulgado nas ações com o PRS, soluções alternativas de fitoterápicos junto ao seu público. Plantas com angico, melão de São Francisco, nim, pinha e uma série de outras de fácil obtenção na região servem de base na preparação de produtos para combater organismos concorrentes das lavouras. Além disso, práticas que fortalecem os mecanismos de defesa das plantas com a rochagem ou remineralização são demonstradas e difundidas com seu público. Somam-se técnicas de conservação do solo e da água que, igualmente, melhoram as condições de resistência das plantas cultivadas.

Implantação de Unidade Demonstrativa pela equipe do Instituto Terraviva em Alagoas