“Biodiversidade, cenários e contribuições do PRS Caatinga" é tema de roda de diálogo

prscaatinga | 2 de junho de 2021

Coordenador compartilhou ações do Projeto, destacando o diálogo com tecnologias sociais e convivência com o semiárido

O PRS Caatinga participou ontem, dia 1o de junho, das comemorações pelo aniversário da organização não governamental Chapada, que há 27 anos se dedica ao fortalecimento da agricultura familiar com ênfase na promoção da agroecologia e na conservação da biodiversidade e do meio ambiente.

Atualmente, o Chapada está desenvolvendo o Projeto “Recupera Caatinga” que objetiva recuperar 30 hectares de áreas degradadas com o plantio de 200 mil mudas nativas por 270 famílias das comunidades quilombolas de Cupira e Nhanhum, no município de Santa Maria da Boa Vista, e Jatobá 2, em Cabrobó. Segundo Alexandre Pereira, Coordenador Geral do Chapada, esta ação investe no conhecimento etnobiológico para implantar sistemas de recuperação de vegetação e a produção resiliente com objetivo de mitigar os efeitos da desertificação e das mudanças climáticas.

O Coordenador Regional do PRS Caatinga Francisco Campello participou da roda de diálogo “Biodiversidade, cenários e contribuições do PRS Caatinga” e apresentou a estratégia do Projeto de promover a adoção de tecnologias agrícolas de baixa emissão de carbono por produtores rurais, dialogando com as tecnologias sociais e práticas de convivência com o semiárido. “Quando a gente analisa a proposta da agricultura de baixo carbono, percebemos que as nossas tecnologias sociais e os esforços de convivência com o semiárido estão muito próximas. O que falta para a Caatinga se inserir em uma agenda climática mais robusta é a questão da métrica” – comentou.

Neste sentido, o PRS Caatinga pretende contribuir para o reconhecimento e valorização de usos locais da biodiversidade que já adotam princípios de sustentabilidade, mas que estão desconectadas de uma agenda mais estratégica sobre as mudanças climáticas. Uma de suas ações estratégicas do PRS Caatinga é promover este debate no Programa de Capacitação em Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono, que está sendo promovido por uma parceria entre a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS) e a Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF).

“Às vezes o agricultor, no seu dia a dia, faz uma série de usos da biodiversidade, de forma inteligente e sustentável, mas que, pela nossa simplicidade, a gente não se vê inserido em uma agenda mais globalizada. Por exemplo, a gente diz que o gado está sendo criado solto na Caatinga. Na realidade, é um sistema silvopastoril, é a pecuária verde que o mundo debate hoje como alternativa para diminuir as emissões de carbono por evitar o desmatamento e equilibrar a alimentação dos animais. A gente tem um criatório na Caatinga com pastagem totalmente diversificada, convivendo com a biodiversidade, mas a gente não valoriza isso.” – destacou.

Campello ofereceu outros exemplos. “O sistema de pousio – sistema tradicional no qual a gente deixa a terra descansar para se recuperar e depois volta a preparar esse ambiente – é um manejo de solo dentro de um sistema agroflorestal. Às vezes, a gente trata isso como um desmatamento porque olha apenas aquele momento do agricultor preparando o solo e não para o contexto. Eu esqueço que é um sistema de manejo de solo.” e complementou: “Quando se fala em incorporar nitrogênio de forma natural, por exemplo, na Caatinga, 20% das plantas são leguminosas. Elas incorporam nitrogênio de forma natural, quando voltam a ocupar o solo com a queda das folhas. Mas a gente não vê isso como uma estratégia de enriquecimento do solo para uma produção sustentável. Às vezes vê até como agressão”.

Segundo Campello, a recuperação de áreas degradadas, como proposto pelo Projeto Recupera Caatinga, representa um esforço muito grande e demanda recursos importantes, especialmente no ambiente do semiárido. “Talvez a maior ameaça da biodiversidade é a incompreensão do uso sustentável. Há iniciativas que não conseguem avançar porque a gente marginaliza o uso sustentável e, sem perceber, induz ao desmatamento.” – concluiu.

Para assistir o evento, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=xlE0K936GyI