A Caatinga em alta na demanda global por orgânicos da agricultura familiar

Anne Clinio, Patrisia Ciancio | 25 de julho de 2022

Levar alimentos saudáveis para a população crescente, nas bases do associativismo, é potencialidade do semiárido nordestino

O ineditismo de espécies da Caatinga, somado à sua vocação sustentável com a produção de orgânicos, tem criado um diferencial competitivo que está chamando atenção de um número crescente de startups, que buscam no bioma produtos regionais para um mercado consumidor global cada vez mais interessado em alimentos saudáveis. Segundo pesquisa da BBC Research, a demanda por alimentos e bebidas orgânicos deve crescer até 11,5% até 2024. “Se a Europa e os Estados Unidos querem produtos orgânicos, é na Caatinga Nordestina que eles podem encontrar”, disse Pedro Leitão, diretor do PRS Caatinga.

Por outro lado, é a agricultura familiar que coloca o alimento na mesa dos brasileiros. Levar produtos saudáveis para a população crescente, nas bases do associativismo, é uma potencialidade do semiárido nordestino. “Temos duas realidades na agropecuária brasileira: a produção de commodities em grande escala focada na exportação e a agricultura familiar, realizada em pequena escala, que alimenta a nossa população. Só na Caatinga, este setor provê alimentos para 26 milhões de pessoas, cerca de 13% dos brasileiros”, explicou o especialista.

Crescimento com objetivo social: uma marca da Caatinga

A agricultura familiar representa um dos maiores setores da economia, sendo responsável por 70% de todos os alimentos consumidos e produzidos no Brasil, segundo o último Censo Agropecuário (2017). Além de promover a segurança alimentar e nutricional, gera renda para produtores, favorecendo a fixação da mão de obra no campo, e dialoga fortemente com a questão da sustentabilidade ao ser influenciada pela agroecologia.

– A 1ª Feira Nordestina da Agricultura Familiar, realizada em junho no Rio Grande do Norte, foi uma demonstração interessante do potencial de queijos, geleias e mel das regiões. Eu vejo um potencial enorme de crescimento desses produtos, justamente por eles serem sustentáveis. E existe a necessidade de processamento dos produtos da agricultura familiar, o que está sendo feito por meio de cooperativas, para o acesso a mercados. Observamos que as iniciativas estão crescendo na região, mas não é o crescimento pelo crescimento. É o crescimento com objetivo social -, destaca.

Projetos que colaboram para a agenda climática são essenciais

– As ondas de calor que temos visto na Europa são prova de que são essenciais os projetos que colaboram para a agenda climática. A Caatinga não passou pela Revolução Verde. Por isso, não é preciso desfazer para refazer. Basta continuar incentivando a produção sustentável. E, no caso do nosso Projeto, fazemos isso promovendo a difusão das tecnologias de baixo carbono -, enfatizou Leitão

O PRS Caatinga está fomentando a adoção das Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono (TecABC) entre mais de cinco mil agricultores familiares de 37 municípios espalhados em cinco estados do Nordeste. A ideia é conciliar a produção de alimentos com a conservação do meio ambiente, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa e aumentando a renda das famílias. Além disso, o Projeto investe no fortalecimento de associações e cooperativas de produtores para ampliar o acesso a mercados.