PRS Caatinga e Agendha promovem diversidade produtiva com povo indígena Xocó em Sergipe

Patrisia Ciancio | 11 de novembro de 2022

Diálogo entre saberes ancestrais e científicos promove desenvolvimento sustentável e ajuda a suprir escassez de água

Na parceria PRS Caatinga e a Assessoria e Gestão em Estudos da Natureza, Desenvolvimento Humano e Agroecologia – Agendha, as Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono (TecABC) estão dialogando de maneira horizontal com os conhecimentos de 60 famílias, entre elas o povo indígena Xocó, nos municípios de Porto da Folha e Poço Redondo, em Sergipe. As ações em conjunto visam promover a diversidade produtiva, já que as localidades trabalhadas estão passando por um processo acelerado de mudança com o crescimento do uso das terras mais férteis para monocultivos de milho transgênico, com mecanização, agrotóxicos e adubos químicos de alta solubilidade.

Os agricultores contemplados pelo Projeto estão relacionando saberes tradicionais, ancestrais e científicos, experimentando as complementaridades das tecnologias sociais de convivência com o semiárido e as tecnologias de baixo carbono. Nas regiões onde a parceria atua, os serviços públicos, gratuitos e continuados de Assessoria Técnica e Extensão Rural (ATER) para Povos e Comunidades Tradicionais, Extrativistas e da Agricultura Familiar (PCTAFs) são muito reduzidos. Segundo o coordenador da Agendha, Maurício Lins Aroucha, a iniciativa com o PRS Caatinga está atendendo a demanda local por serviços de ATER, agregando as perspectivas agroecológica e socioambiental. E ainda, busca atuar de maneira articulada com as pesquisas e o ensino em escolas agrotécnicas, institutos de educação e universidades estaduais e federais.

Umbuzeiro é uma das árvores plantadas na recuperação de áreas degradas na Caatinga

TecABC como solução para fatores preocupantes

“Há uma questão preocupante, que são os chamados fatores edafoclimáticos da zona semiárida, entre eles a pouca fertilidade e fragilidade dos solos, os desmatamentos com destocas e queimadas, e a salinização por manejos inapropriados, que contribui para desertificação e seus efeitos perversos”, comenta Aroucha.

Nesse sentido, as ações implementadas pela Agendha adotam uma ampla gama de tecnologias de baixo carbono, destacando-se o Manejo Sustentável de Florestas (MSF), a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), a Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), a Recuperação de Áreas Degradadas (RAD) e o Manejo de Dejetos Animais (MDA).

Nas seis unidades demonstrativas e nas 54 unidades multiplicadoras previstas pela parceria, a assistência técnica tem o papel de enfatizar a conservação do solo e da vegetação, e está auxiliando na implementação de Sistemas Agroflorestais (SAF) com roçados em aluviões. Já nos criatórios da bovinocultura leiteira estão sendo desenvolvidas atividades para suporte forrageiro com mandacaru e plantas forrageiras com mais resistência ao período de estiagem.

Barragem Base Zero é estratégia para captação de água

Nas duas localidades – Porto da Folha e Poço Redondo –, a escassez de água é um dos principais desafios, uma vez que impacta o consumo humano, uso doméstico, cultivos, a dessedentação e a alimentação dos criadouros, bem como o beneficiamento dos alimentos.

Uma das estratégias para melhorar a convivência com o semiárido é a implementação de 18 Barragens Base Zero (BBZ), soluções que estão sendo construídas pela Agendha com a colaboração do Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC), outra organização apoiada pelo PRS Caatinga em Sergipe. Até o momento, três barragens já foram implementadas.

A BBZ é uma tecnologia social que, nos momentos de abundância de água, diminui a velocidade da correnteza dos rios e impede que o solo (e seus nutrientes) sejam arrastados até pontos específicos, aterrando o seu leito. Essa tecnologia, construída com diversos muros baixos de pedras, faz com que a água fique mais tempo em contato com o solo, facilitando a sua infiltração até os lençóis freáticos e aumentando a quantidade de água armazenada a ser utilizada quando os rios estiverem secos.

Barragem Base Zero

“Mais molhanças” e microclima mais ameno são resultados esperados

Produtora Lindinete Alves

A agricultora Lindinete Alves Oliveira, moradora de Poço Redondo, conta como está sendo a implantação das tecnologias de baixo carbono na sua propriedade.

Ela destaca que as tecnologias de baixo carbono servirão para proporcionar o que ela chama de “mais molhanças” a partir das próprias águas dos riachos. Outros benefícios são garantir a fonte de alimentação para os animais com o suporte forrageiro, além de outros impactos positivos a partir das novas práticas, como a criação de um microclima mais agradável no lugar da implantação.

“Acredito que as tecnologias sejam boas, mas precisamos primeiro passar por isso e ver os resultados para ter a certeza: para a gente ter sombrios onde estão as barragens, para conseguir alimentação para a gente e para os animais – sobretudo no verão. Acho também importante o plantio da palma para ajudar na alimentação dos animais. É a primeira vez que estou participando de uma experiência dessas e tenho fé em Deus que dará tudo certo”, afirmou Lindinete.