TecABC renovam interesse dos jovens pelo campo

Patrisia Ciancio | 2 de janeiro de 2024

Sustentabilidade e inovação motivam o engajamento da juventude rural

Fernanda de Sousa Lermen tem 15 anos e mora na Serra dos Paus Dóias, em Exu, no Sertão de Pernambuco. Ela faz parte da nova safra de jovens que estão antenados com as oportunidades do campo. Por iniciativa própria, começou a produzir conteúdo para as redes sociais da organização em que seus pais atuam: a Associação dos/as Agricultores/as Familiares da Serra dos Paus Dóias (AGRODÓIA). E foi além: é ela quem responde pela Comunicação da entidade.

"Sempre gostei das redes sociais e tive facilidade de mexer com essas ferramentas, mas só comecei efetivamente há um ano e meio, fazendo postagens, produzindo folders, banners, cartazes. Aprendi a editar vídeos e fui me aperfeiçoando. Venho construindo uma bagagem de muitos conhecimentos, aprendizados e partilhas", conta Fernanda, que pretende fazer faculdade na área de Comunicação Social.

A AGRODÓIA é um dos 20 Arranjos Produtivos Locais (APLs) parcerios do PRS Caatinga na implementação das Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono (TecABC) no semiárido. A organização trabalha com agricultura familiar sustentável consorciada com a prática da Meliponicultura - atividade de criar abelhas sem ferrão. Também tem como foco educação ambiental, agricultura agroflorestal e agroecológica.

Nesta entrevista, Fernanda Lermen mostra como a inovação vem contribuindo para um maior engajamento dos jovens na agricultura familiar

A inovação tem papel fundamental para despertar mais interesse dos jovens produtores pelo campo. Como esse público está se engajando?
Fernanda Lermen - Em parte, buscamos sempre inovar, despertando o interesse dos jovens nas atividades rurais, mostrando que a convivência no campo é a melhor alternativa, pois é onde temos a liberdade de cultivar nossos próprios alimentos, saudáveis, sem agrotóxicos, e enriquecendo a terra cada vez mais, fazendo com que ela produza muito mais. O engajamento vem dessa visão de querer sempre fazer algo inovador, mas com práticas de conservação do Meio Ambiente.

Qual é o papel das tecnologias de baixo carbono na Caatinga nesse cenário?
FL - Essas tecnologias podem atrair os jovens quando vemos que podem nos proporcionar um sistema mais sustentável, reduzindo assim a degradação, enfraquecimento do solo e enriquecendo cada vez mais as plantações. Tudo isso pode ser projetado com divulgação. Sustentabilidade, redes sociais, inovação são temas de grande interesse entre os jovens que hoje estão no campo.

De que forma o PRS Caatinga contribui para essa mudança de mentalidade e como você observa a sua participação nessa proposta?
FL - O desenvolvimento desse projeto nos trouxe outras visões, compreendendo e instruindo os produtores rurais, buscando melhorias para todos, sempre em busca das melhores práticas. Sou uma jovem que estuda e que quer continuar estudando, fazer faculdade na área de Comunicação. Tive oportunidade de participar de um curso na Universidade Federal do Vale São Francisco (Univasf) na área de Comunicação/Informática, ampliando os conhecimentos e habilidades junto com os jovens da minha comunidade, e foi ótimo. Fizemos também cursos e oficinas com a juventude das comunidades, com o objetivo de trazer mais fontes de renda, com o beneficiamento dos produtos do nosso roçado e do nosso bioma. Com o PRS Caatinga abriram-se muitas portas e oportunidades para trazer fontes de renda para os jovens e suas famílias!

As TecABC, no diálogo constante com os saberes tradicionais da convivência com o semiárido, podem ser um caminho para a modernidade?
FL - Sim, tendo em vista que os saberes dos povos tradicionais nos mostram diferentes jeitos e formas para se trabalhar no campo e esses saberes cada vez mais vêm sendo esquecidos, deixados de lado. Vejo que temos uma necessidade de buscar e nos aprofundar nesses saberes. E as TecABC podem, sim, ser uma alternativa de conexão entre os dois saberes.