TecABC reduzem impacto de emissões de gases do efeito estufa

Juliana Braga | 9 de janeiro de 2024

Estudo aponta GEEs como principais causadores de recorde de temperatura em 2023

O ano de 2023 foi o mais quente já registrado. Segundo relatório do observatório europeu Copernicus, divulgado nesta terça-feira, a temperatura da Terra ficou 1,48ºC acima do nível pré-industrial, um número muito próximo dos 1,5ºC estabelecido como “limite” para evitar os efeitos mais graves das mudanças climáticas. Por trás deste marco, estão o El Niño e, principalmente, altos índices de emissão de gases do efeito estufa (GEE).

No Brasil a maior parte das emissões de GEE para atmosfera são provenientes de técnicas de uso da terra, principalmente desmatamento. O Projeto Rural Sustentável Caatinga (PRS Caatinga) fez da adoção das Tecnologias Agrícolas de Baixa Emissão de Carbono (TecABC) um instrumento para tentar reverter esse cenário.

“A Caatinga é um bioma em estágio avançado de degradação ambiental e é considerada a região com a probabilidade de maior impacto climático. A promoção de uma agricultura sustentável e regenerativa mostrou que o semiárido tem enorme potencial para contribuir para a agenda climática”, afirma o diretor do projeto, Pedro Leitão.

Ao todo, 1.505 produtores rurais de cinco estados – Alagoas, Bahia, Pernambuco, Piauí e Sergipe – participaram do Projeto, cuja missão é reduzir a pobreza e emissão de gases de efeito estufa por meio da adoção das TecABC. Iniciado em 2019, o PRS Caatinga promoveu ações integradas - que incluíram a realização de estudos sobre o bioma e o impacto da agricultura de baixo carbono, capacitação em TecABC e o fortalecimento de Arranjos Produtivos Locais - para estimular a produção agrícola sustentável e o desenvolvimento de um potencial mercado para produtos de Baixo Carbono.

Sistemas ILPF promovem agricultura sustentável e regenerativa

Uma das TecABC incentivada pelo projeto é o Sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que permite combinar diferentes componentes produtivos – agrícolas, pecuários e florestais – em uma mesma área, diversificando a produção. O ILPF também pode ser combinado com outras tecnologias, como Sistema de Plantio Direto, Fixação Biológica de Nitrogênio e Recuperação de Áreas Degradadas.

“O uso de ILPF é a uma excelente opção para diminuir as emissões, apostando numa agropecuária regenerativa e sustentável. O PRS Caatinga mostrou que pequenos produtores do bioma podem ajudar a mitigar essas emissões, com capacitação adequada e mão de obra especializada”, afirma a coordenadora científica do projeto, Renata Barreto.

Em quatro anos de projetos, a eficiência das TecABC foi avaliada de forma prática em diferentes sistemas produtivos como, por exemplo, a apicultura, que utiliza a floresta natural. A Cooperativa de Trabalho de Prestação de Serviços para o Desenvolvimento Rural Sustentável da Agricultura Familiar (Cootapi) atua em três sistemas produtivos: apicultura, fruticultura e criação de animais ruminantes, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa na produção de alimentos.

A iniciativa combina a tecnologia de baixo carbono da ILPF com a tecnologia social do biodigestor, que produz o biogás e o biofertilizante com o manejo de dejetos dos animais. O biogás é utilizado na cocção dos alimentos e o biofertilizante vai para a lavoura, considerado matéria riquíssima para adubação de plantas de forma sustentável.

A atividade apícola utiliza a floresta natural e pode ser beneficiada com a implantação dos sistemas ILPF com produção de frutas e espécies que florescem em épocas diferentes da floresta nativa.
Com capacitação adequada e mão de obra especializada, o PRS Caatinga mostrou que pequenos produtores do bioma podem contribuir – e muito – para a questão climática.