Mulheres rurais são destaque da segunda turma de aulas práticas do Programa de Capacitação em TecABC

Patrícia Lyra | 18 de outubro de 2021

Elas são maioria na segunda turma, que se destacou pela inclusão e o espírito de colaboração

Na semana passada, mais especificamente na sexta-feira, 15 de outubro, comemorou-se o Dia Internacional da Mulher Rural, uma data que celebra as mulheres guerreiras que tiram seu sustento da terra e da terra nos dão o alimento. Elas são a maioria entre os 80 alunos que participaram na semana passada do segundo grupo a vivenciar as aulas práticas do Programa de Capacitação em Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono do Projeto Rural Sustentável Caatinga – uma parceria entre a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS) e a Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.

Temos nessa Caatinga várias Marias, Anas e Conceições. Entre tantas mulheres rurais que merecem ser homenageadas, destacamos algumas de nossas alunas. Começamos por representantes da comunidade quilombola de Conceição das Crioulas no município de Salgueiro, em Pernambuco.

Mães em ação

Entre elas encontramos Ednalva Ana da Silva, aluna que veio para as aulas práticas trazendo sua filha de apenas 3 meses. “Sou agricultora, trabalho com os ensinamentos tradicionais das plantas medicinais, com aproveitamento alimentar, além de professora e mãe, mas sobretudo uma mulher guerreira! Vim com minha bebezinha. Não é fácil, algumas desistiriam, mas ela é um incentivo pra mim. As dificuldades surgem, mas não podemos deixar que elas nos impeçam de seguir adiante. Eu quero o melhor para mim e minha família e isso só o estudo é capaz de me dar”.

Encontro entre gerações de conhecimento

Seu João Virgulino, de camisa branca, tem 84 anos e é aluno do Programa de Capacitação

Outro exemplo de garra é Maria de Lurdes da Silva, conhecida como Lurdinha, que se apresenta com voz altiva, mostrando que a aridez da lida só a fortaleceu. “Sou mulher, trabalhadora rural, agricultora orgânica, artesã, pedagoga e psicopedagoga. Estou com 5.4. Sempre gosto de estar nesses grandes momentos de aprendizagem, que fazem com que eu me fortaleça mais ainda. Sou também mãe, avó e filha de Seu João Virgulino de 84 anos, uma das pessoas que mais me fortalece na agricultura. Fez toda a diferença eu poder trazê-lo comigo. Sou também aluna, e uma aluna cheia de orgulho de ser da Univasf, de enfrentar esse desafio e aproveitar essa oportunidade. Sou só gratidão”.

Cadeira de rodas não limita vontade de aprender

Valdirene a caminho de mais uma aula prática

Valdeci Maria da Silva, também conhecida como Val, é uma aluna com dificuldade de locomoção que também participou das aulas práticas. Anos atrás, Val sofreu um acidente de carro que a deixou cadeirante. Essa condição não diminuiu a sua garra e nem tirou do seu rosto o sorriso largo e a esperança de continuar na luta do dia a dia e de vir ao curso presencial. “Pra mim, em especial, é uma alegria muito grande estar nesse espaço, dividindo esses conhecimentos. Estou cadeirante e mesmo assim, com a ajuda de todos pude fazer o trabalho de campo. Foi um momento muito importante, pois mesmo com as dificuldades foi tudo possível e isso me dá muita força para continuar na luta. Jamais vou parar. Se eu estou aqui é porque ainda tenho muita coisa para fazer”.

Inclusão como diferencial

Para o coordenador regional do PRS Caatinga, Francisco Campello, a história de cada uma dessas mulheres, agricultoras rurais, representa a realidade de muitas outras e todas merecem ser homenageadas. “Elas são verdadeiras guerreiras. Hoje merecem mais que homenagens, merecem presentes, mas a troca de saberes e a colaboração que recebemos delas na durante a capacitação é um presente, que quem ganha somos todos nós”.

O diferencial dessa turma foi a inclusão, afirmou Campello. “Segundo Ednalva, ela achou que seria mais difícil trazer a pequena Lohanny Sophia, que ainda está na fase da amamentação, mas a ajuda de todos e todas fez a diferença. Lurdinha não perdeu as aulas, pois pode trazer seu pai que participou de todos os momentos e ainda contribuiu com seus anos de experiência e Val conseguiu aproveitar todo o conteúdo das aulas, mesmo sendo no campo”, acrescentou.