A Caatinga e as energias limpas - A biomassa pode substituir o Gás Natural?

Patrisia Ciancio | 29 de junho de 2022

“É possível fazer substituição de energia fóssil por produtos de Manejo Florestal Sustentável”, diz Francisco Campello

Embora a biomassa seja mais barata e limpa, ainda não é reconhecida como alternativa ao uso de energias fósseis mais caras e poluentes. Para debater o tema “Caatinga e Meio Ambiente: Sustentabilidade e Energia Limpa”, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de Pernambuco (Crea-PE) convidou o PRS Caatinga para um evento online que comemorou o Dia do Meio Ambiente, em 5 de junho.

Além do coordenador regional do Projeto, que é engenheiro florestal e mestre em Manejo Florestal Sustentável, palestraram no evento o engenheiro agrônomo e consultor da Associação Plantas do Nordeste (APNE), Enrique Mário Riegelhaupt. E o engenheiro florestal e professor Felipe Rabelo conduziu as discussões.

O mundo vem debatendo alternativas para reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), especialmente no setor energético, cuja matriz ainda está fortemente baseada na queima de combustíveis fósseis. Segundo Campello, a Caatinga se faz muito marcante na paisagem nordestina, correspondendo a mais de 60% de cobertura florestal no semiárido.

– A biomassa florestal é uma energia renovável, inclusiva, porque é importante para as populações rurais, e de baixo custo. O que falta é ser sustentável e para isso é preciso aceitar os avanços da ciência. A gente continua querendo negar a oportunidade da Caatinga em ser sustentável. E as indústrias continuam usando lenha, em vez de a gente trazer esse cenário para uma economia verde, para um marco legal -, disse Campello.

A vocação energética da Caatinga

De acordo com Campello, o Manejo Florestal Sustentável é uma tecnologia de baixo carbono que lida com a questão das mudanças climáticas, no sentido de estabelecer um sistema produtivo regenerativo e de baixo carbono. “Alguns esforços que estão sendo feitos nos dão um alento. O PRS Caatinga, por exemplo, insere o manejo florestal em temáticas mais globalizadas”, enfatizou.

“É importante superar os preconceitos e as dificuldades para o manejo florestal e combater a desertificação por meio da vocação energética da Caatinga. Ajudamos a aprovar a Política Nacional de Combate à Desertificação, porém, temos de fazê-la incorporando as práticas de uso sustentável dos recursos naturais. Vocação energética, mas por meio do manejo sustentável dos seus recursos naturais”, ressaltou Campello.

Seguindo a mesma perspectiva, Riegelhaupt iniciou a sua apresentação indagando: “O que falta para que a biomassa da Caatinga seja o combustível preferido e ambientalmente correto nas caldeiras e fornos das indústrias do Nordeste?” Como suporte a essa pergunta, o especialista apresentou argumentos sobre o uso da biomassa da Caatinga na perspectiva energética:

  1. A biomassa lenhosa da Caatinga pode substituir o Gás Natural que alimenta caldeiras, fornos e outros equipamentos industriais. Ela custa três ou quatro vezes menos.
  2. O uso da biomassa pode reduzir bastante o custo de produção das empresas consumidoras. Se a base energética for a biomassa da Caatinga, é possível substituir de imediato os investimentos mínimos na cadeia de produção.
  3. Se a biomassa vier de Planos de Manejo Florestal Sustentável, garante-se a conservação das florestas a longo prazo, mantendo seus serviços ambientais, além de ajudar a aumentar a produção de carne e leite.
  4. Seu uso pode eliminar as emissões de GEE por queima de Gás Natural e contribuir para evitar o aquecimento global.
  5. Pode ajudar a reduzir as importações de gás do Brasil, possibilitando que o recurso permaneça no país, gerando renda extra para os donos e trabalhadores da terra.
  6. Biomassa lenhosa é energia legal, barata e livre de emissões.

Confira o evento na íntegra:

https://www.youtube.com/watch?v=QgS...